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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula sai em vantagem e Bolsonaro só tem a máquina e "cristofobia"

Colunista do UOL

16/08/2022 13h00

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Os bolsonaristas provavelmente esperavam mais uma queda de Lula nas pesquisas de opinião. Esperei a entrevista ao UOL da CEO do Ipec, Márcia Cavallari, para formar uma opinião.

Ela crê que Lula tem tendência de queda e Bolsonaro de alta e isso não se deve a qualidades ou defeitos pessoais, mas ao fato de que um tem a caneta na mão e o outro não.

O pior inimigo de Jair Bolsonaro é o conjunto da obra do governo dele, recordista em rejeição no primeiro dia da campanha.

Por outro lado, a aprovação do governo atual só foi superada por Lula, está em patamares muito próximos aos de Itamar Franco, Fernando Henrique e Dilma Rousseff.

Segundo a última pesquisa Ipec, 57% dos brasileiros reprovam o governo Bolsonaro enquanto 37% aprovam. A conta não chega em 100% porque muitos não respondem ou ficam na coluna do meio.

A rejeição dos governos de presidentes candidatos à reeleição, segundo o Datafolha, teve um recorde de 32% em 2002, quando Lula teve sua vitória histórica sobre o PSDB de Fernando Henrique.

Em anos de reeleição, nenhum presidente reeleito iniciou a campanha nem com metade da rejeição de governo que tem Jair Bolsonaro. Os governos de Lula e FHC eram rejeitados por 18% e o de Dilma Rousseff por 23%.

Já a aprovação do governo Bolsonaro é, vejam só, muito semelhante aos dos governos de presidentes reeleitos. O dele é aprovado por 37%.

Fernando Henrique e Dilma se reelegeram tendo 38% de aprovação do governo, segundo o Datafolha, no primeiro dia da campanha. Lula se reelegeu começando a campanha com o governo aprovado por 45%.

Outra questão é a rejeição a Jair Bolsonaro em si, um recorde absoluto de 46%. Ele só perde para ele mesmo, que conseguiu o feito inédito em 2018 de se eleger começando a campanha com 43% de rejeição, segundo o Datafolha.

A rejeição de Lula está em 33%, marca muito similar a de todos os levantamentos sobre o petista desde as eleições de 1994. Também é semelhante aos 34% de rejeição de Dilma Rousseff no início da campanha à reeleição.

Jair Bolsonaro é o presidente brasileiro que inicia sua campanha de reeleição com a menor intenção de votos, 32% segundo a última pesquisa do Ipec. Dilma Rousseff começou com 36%, Fernando Henrique com 42% e Lula com 47%.

O auxílio não fez a mágica esperada pelo bolsonarismo. Os R$ 600 não fazem nem uma compra boa de mercado para uma família atualmente.

Mas Jair Bolsonaro ainda tem a caneta na mão e um Congresso de joelhos, anestesiado pelo orçamento secreto. Será beneficiado economicamente pela independência energética e uma tendência de alta das commodities.

Não sabemos se isso chegará ao cotidiano das pessoas antes das eleições. Economia, para o bem e para o mal, faça sentido ou não, tende a ser jogada no colo do presidente da República pelo eleitorado.

Além do uso da máquina pública a favor de sua candidatura, só resta ao presidente a comédia de erros da campanha petista com os evangélicos. E o bolsonarismo tem aproveitado cada gota disso com o trunfo Michelle.

Diante da primeira-dama, o justiceiro social Justo Veríssimo não consegue segurar o nojo que tem de crente. E isso tem alimentado a narrativa do cristão perseguido e da "cristofobia" da esquerda.

A mais nova casca de banana é a história da "fake news" de fechamento das igrejas. O bolsonarismo ganha com a abordagem superficial e simplista de que o deputado Marco Feliciano teria espalhado isso e o mundo evangélico simplesmente acreditou.

É preciso supor que todo evangélico seja um imbecil incorrigível e juramentado para embarcar nessa versão. Tanto a elite intelectual brasileira quanto a própria campanha lulista embarcaram. Significa, como diria meu ídolo Ronnie Von.

A história de fechar igreja é um boato do meio evangélico desde o início da pandemia, quando igrejas foram fechadas pela primeira vez no Brasil.

Além disso, os movimentos a favor de submeter denominações religiosas à Receita Federal ou seus ritos - como casamento religioso - às leis brasileiras de inclusão são vistos como ameaça à liberdade religiosa e à própria existência de algumas denominações.

É esse o debate que teria de ser enfrentado e contraposto, mas ele não é nem percebido porque se subestima a inteligência do evangélico e do cidadão comum.

A soberba gera um ranço que extrapola o segmento religioso. A seu favor na vida real, é tudo o que Bolsonaro tem no momento.