Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
PT virou máquina de puxar tapete de mulher cotada para ministério
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A confirmação de que Camilo Santana tomará o lugar de Izolda Cela no ministério da Educação é a confirmação de que a diversidade pregada pelo PT vale só para os outros e para lacrar na internet.
Ainda é um desafio até para as mulheres mais poderosas do país conquistar o espaço público e ser considerada pelos homens como um ser humano digno de tanto respeito quanto eles. Isso explica não só o ocorrido com a ex-governadora do Ceará mas a humilhação pública que Lula tem feito com o chá de cadeira em Marina Silva e Simone Tebet.
É um escracho absoluto que o destino das duas no governo Lula não tenha sido o primeiro anúncio a ser feito. Ainda mais indecente é que políticos e formadores de opinião aceitem passivamente a normalização dessa situação esdrúxula.
Lula conseguiu uma diferença de uma unha de mindinho em cima de Bolsonaro porque Marina e Simone estavam ao lado dele dando a ideia de frente ampla. Foi isso o que atraiu tantos apoios. Ao contrário do Clube do Bolinha que ele já nomeou, elas foram diretamente responsáveis pelo sucesso da campanha.
Não defendo que as duas tivessem ministérios, quem decide as pastas é Lula. Defendo é que a definição já deveria ter sido feita e não porque são mulheres, mas porque foram fundamentais na campanha. Parte da explicação sobre a falta de definição não ser um escândalo é o fato de serem mulheres.
Izolda Cela é outro caso emblemático. Já era o nome que estava na cabeça de Lula para o ministério da Educação durante a campanha devido aos resultados que produziu nessa área durante sua gestão, dando continuidade a um robusto projeto educacional cearense.
Não seria nomeada por ser mulher, mas pelo mérito e por abrir mão da candidatura própria num acordo com o PT. Camilo Santana acaba de ser eleito senador, não era cotado para o ministério da Educação.
Ocorre que o PT não quer abrir mão da pasta, então puxou o tapete de uma mulher. É mais uma comprovação cabal de que lacrador não quer diversidade, somente usa um disfarce inclusivo para jamais abrir mão do próprio espaço.
A essa equação se junta outra, o alto valor de liberar a misoginia nos grupos políticos. No livro Princesas de Maquiavel, organizado pela cientista política Juliana Fratini, escrevi o capítulo intitulado: "Jogar pedra na Geni é o esporte mais democrático da política".
Ali detalho como a liberação da misoginia tem sido um fator que energiza e une grupos no ambiente digital. A causa não é exatamente machismo ou misoginia, é frustração. Manobrar ressentimentos é uma ferramenta poderosa da era digital.
A mulher no espaço público ainda é algo que causa estranhamento e também muito ressentimento. Durante milênios a arena pública foi dos homens e em décadas a situação mudou. Os postos não se duplicaram mas a concorrência sim. Muitos homens esperavam um tipo de destaque ou resultado que jamais terão porque a concorrência mudou.
Canalizar esse ressentimento era um dos principais mandamentos de Steve Bannon. Os mais radicais gostam de xingar apelando à sexualidade ou fazendo observações sobre o corpo da mulher. Mas há também a misoginia elegante, geralmente disfarçada de crítica.
Dizendo que está fazendo uma crítica à mulher, o misógino ressentido faz a simplificação intelectual, comparação dela com gente menos competente, generalização maliciosa, distorção do discurso e também difamação.
No caso de Izolda Cela, esquerdomachos já começaram a dizer que o problema dela era a ligação com fundações que o PT não aprova. Claro que foram dizer isso sempre nas redes sociais, ensinando a outras mulheres que o PT não é machista e elas é que são histéricas por reclamar.
Fosse verdade, ela não teria ficado no ministério, como ficou. Mas é claro que não vão retificar, a Geni está aí é para tacar pedra.
O PT virou uma máquina de puxar tapete de mulheres cotadas para ministérios. E tem o requinte de jamais ter indicado outra mulher para a vaga da que foi derrubada.
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