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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Janja, Choquei e as fake news sobre imposto da Shein

Janja aproveitou o Carnaval em Salvador - Victor Chapetta/ AgNews
Janja aproveitou o Carnaval em Salvador Imagem: Victor Chapetta/ AgNews

Colunista do UOL

12/04/2023 17h41Atualizada em 12/04/2023 18h06

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Do jeito que a coisa vai, um dia teremos uma CPI dos perfis de fofoca no Brasil. A forma coordenada como dominam o debate público, arregimentam público violento e depois se metem em política tem tudo para criar uma baita encrenca.

Talvez estejamos diante de uma versão limpinha vitaminada do falecido Terça Livre. Limpinha porque representa a vitória do amor. Vitaminada porque também envolve influencers e, vejam só, às vezes até jornalistas.

Eu lembro quando Paulo Guedes teve a ideia de taxar encomendas internacionais abaixo de US$ 50. Foi uma gritaria danada de consumidores e também de influencers que fingem defender pobre.

Nossos sensacionais justiceiros sociais do tipo Justo Veríssimo diziam com todas as letras que é preciso odiar pobre para ter uma ideia dessas. Muita gente compra em sites como Shein, Alibaba e Shopee produtos bem mais em conta. Não poderiam consumir as mesmas coisas comprando no Brasil ou pagando impostos.

Não são apenas bugigangas que se traz do exterior via encomenda. Tem gente que compra remédios, vitaminas e suplementos, por exemplo. Com as taxas, muitos não poderão mais consumir.

A equipe de Paulo Guedes até tentou explicar que, como toda explicação simples, emocionada e moralista, esta é superficial. Além do consumidor padrão, se formou um mercado de evasão fiscal em torno disso.

Há empresas que compram esses produtos para revender no Brasil. Teriam de pagar impostos. Mas é possível fracionar a compra em vários pacotes de US$ 50 e receber como pessoa física, livre de taxa.

Não sabemos direito qual o volume desse problema e se realmente ele justificaria a taxação para todos. Sabemos apenas que, para nossas paquitas de político, isso era ódio a pobre até uns meses atrás.

A diferença de tratamento ficou evidente agora que o governo Lula adotou o plano do governo Bolsonaro e taxou as encomendas. Pelo que eu entendi dos comentários das paquitas de político, agora não é mais ódio a pobre porque o amor venceu.

Um dos casos mais aberrantes é o do perfil Choquei, lotado de seguidores influentes, ligado a agências importantes e prestigiado por nossa primeira-dama. Até para a posse o dono foi convidado. Não é uma brincadeira, é poder real.

Já as publicações têm a mesma seriedade de um show de standup e são tratadas por influencers exatamente como tratamos as piadas. Levar a sério e exigir desculpas é coisa que o brasileiro só faz com show de humor. Esse caso é mais um para ilustrar o hábito.

Quando Paulo Guedes falou em taxar as encomendas, o Choquei postou o seguinte: "BRASIL: O ministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu a taxação de aplicativos de compras como Shopee, Ali Express e Shein. O governo não cansa de ferrar com o pobre".

Agora que Lula implementou a ideia de Paulo Guedes, a publicação do mesmo Choquei é: "BRASIL: Governo Lula anuncia o fim da isenção de importação de encomendas de até US$ 50. A medida deve beneficiar Lojas Renner, Magazine Luiza e Mercado Livre e é adotada após reclamações do setor sobre a concorrência desleal de AliExpress, Shein e Shopee".

Percebam que agora a mesma medida, além de não ferrar ninguém, ainda favorece empresas nacionais. Já estava ridículo mas piora. Nossa primeira-dama fez questão de deixar claro que espera um nível ainda maior de subserviência ao governo.

Postou publicamente: "@choquei a taxação é para as empresas e não para o consumidor". Achei que era um perfil fake, mas infelizmente é o de Janja.

Qualquer que seja o formato da cobrança, com o recolhimento antecipado pela empresa ou o pagamento na retirada, a conta será paga pelo consumidor.

Danem-se os fatos. O perfil "corrigiu" a informação, colocando a versão distorcida. Esperemos que esse não seja o comportamento desejado pela nossa primeira-dama para todos os que trabalham com notícias.

Felizmente o amor venceu e o combate a Fake News e desinformação é prioridade no governo. Ainda não vi, mas tenho certeza de que o influencer Felipe Neto rapidamente esclarecerá tudo. Se não for ele, será o órgão maldosamente chamado de "Ministério da Verdade" por alguns.