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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A crise do GSI e a arte de salvar o PT e Lula de si mesmos

1º.jan.2023 - Presidente Lula abraça o então ministro do GSI, General Gonçalves Dias, durante cerimônia de posse - 1º.jan.2023 - Sergio Lima/AFP
1º.jan.2023 - Presidente Lula abraça o então ministro do GSI, General Gonçalves Dias, durante cerimônia de posse Imagem: 1º.jan.2023 - Sergio Lima/AFP

Colunista do UOL

20/04/2023 14h50

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Não adianta botar a culpa em teorias conspiratórias agora. As imagens estão lá e o governo Lula terá muito o que explicar sobre a atuação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência nos atos de 8 de janeiro. As consequências virão, com ou sem passação de pano das paquitas luloafetivas. Salvar o PT e Lula de si mesmos começa a se tornar uma arte complexa.

Existe sim a teoria conspiratória dos infiltrados petistas, levada a sério por uns poucos amalucados ou oportunistas, tanto favoráveis quanto contrários a ela. A maioria das pessoas, inclusive bolsonaristas, riu da tentativa de passar pano.

Eram os bolsonaristas mais radicais que estavam organizados há meses nas portas dos quartéis pedindo um golpe militar para colocar Bolsonaro na presidência depois de ter perdido nas urnas. E daí atacavam também as urnas. Já havia episódios violentos em Brasília envolvendo esses acampados, inclusive uma tentativa de explodir um caminhão-tanque de combustível de aeronave.

Pesquisa da Ipsos feita logo após 8 de janeiro mostrou que 81% dos brasileiros reprovaram os atos, um número que ultrapassa enormemente o tamanho do eleitorado de Bolsonaro.

A narrativa petista havia se colocado como pólo oposto da teoria conspiratória. Todo mundo que questionasse as ações do governo no dia dos ataques era imediatamente carimbado como bolsonarista e acusado de acreditar na teoria dos infiltrados.

Não é algo que convença o público, mas é algo bastante eficiente para provocar autocensura entre influencers, jornalistas e atores políticos. Com medo da multidão ensandecida que transforma pessoas em Chernobyl, a saída é calar.

Mesmo que ninguém acredite na narrativa que tenta classificar um crítico como teórico da conspiração, essa pessoa vira maldita e será prejudicada. Haverá pressão para que ninguém elogie, repercuta, leia, contrate, chegue perto. Quando a pessoa estiver suficientemente desumanizada, o novo passo é constranger o grupo a isolar a pessoa e fazer bullying. Estava dando super certo para sumir com os questionamentos até que Lula e o PT complicaram a situação para eles próprios.

Havia dúvidas honestas sobre a facilidade da tomada dos prédios dos Três Poderes, algo que pareceria forçado até em filme. Não havia um tanque de guerra, uma bomba, um helicóptero, uma bazuca. O centro do poder caiu como se fosse a casa de palha dos Três Porquinhos, algo inacreditável.

Pouco a pouco os questionamentos foram silenciando. Passou a ser verdade absoluta que apenas as forças aliadas ao bolsonarismo compactuaram com a invasão ou tiveram falhas monumentais na ação. A realidade, que sempre se impõe, atropelou a narrativa.

Lula escolheu para o GSI um amigo pessoal de longa data. No meio militar já houve desconforto quando, no passado, Lula promoveu Gonçalves Dias a general de três estrelas sem ter comandado tropa. Agora era visto por muitos nas Forças Armadas como despreparado para um posto tão importante como o que ocupava.

O governo ficou refém dessa escolha. As imagens do general e seu pessoal durante a invasão do planalto falam mais do que todas as palavras dos especialistas em "veja bem". O impacto de imagem e a mudança da narrativa independem de fatos, já se consolidaram.

Incompetência é o dano de imagem mais brando que pode colar no governo. O general teria errado. Subindo na escala de danos está a ideia de que o general teria traído Lula. Lula já foi o "traído" em todo o escândalo do mensalão, o que torna a história mais difícil de colar ou associa a imagem de Lula à incompetência para nomear. O pior dano é se colar a narrativa que a oposição mais fogueteira lançou, a de que o governo teria feito corpo mole de propósito.

A verdade pode ser qualquer uma dessas hipóteses. Provavelmente teremos a CPI, algo que sabemos como começa mas nunca como termina. Podemos ter uma apuração séria com material que dê respaldo à responsabilização efetiva de culpados. Podemos também ter uma grande pizza.