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Maria Carolina Trevisan

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pesquisa BTG/FSB mostra que há obstáculos para Bolsonaro seguir crescendo

O ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro                              - RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA E CAROLINA ANTUNES/PR
O ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro Imagem: RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA E CAROLINA ANTUNES/PR

Colunista do UOL

25/04/2022 12h11

A diferença entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) caiu cinco pontos percentuais em um mês, mas será cada vez mais difícil para o atual presidente continuar crescendo. É o que mostra a nova rodada de pesquisas BTG/FSB publicada nesta segunda (25).

Com a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa à Presidência, Bolsonaro absorveu parte desses votos e ganhou três pontos percentuais nas intenções de voto no primeiro turno, chegando a 32%. Lula segue na liderança, com 41%, dois pontos percentuais a menos que em março.

A outra parte dos desiludidos de Moro, porém, sinaliza que não quer votar nem em Bolsonaro e nem em Lula. São os eleitores da antipolítica, que não caem mais no discurso antissistema de Bolsonaro e têm forte rejeição a Lula. Essa parte não muda o cenário eleitoral.

Ao mesmo tempo, a terceira via segue encolhendo e agora soma 17% das intenções de voto. Nessa ala, o candidato mais bem colocado é Ciro Gomes (PDT), com 11%. Seus eleitores se identificam mais à esquerda. A tendência em um segundo turno seria que a maior parte deles apoiasse Lula, desfavorecendo Bolsonaro.

Ao considerar o panorama de segundo turno, contando apenas os votos válidos, Lula teria hoje 58,4% contra 41,6% de Bolsonaro. É uma diferença de 16,8 pontos percentuais que Bolsonaro teria de obter em cinco meses. É pouco tempo para quem tem uma crise econômica e social em curso, com desemprego e inflação em alta.

Nesse sentido, o tempo trabalha contra Jair, apesar da vantagem que ele tem por ser presidente e estar em evidência, empunhar a caneta e a máquina do Estado. Depois de três anos e meio de governo Bolsonaro, o eleitor não vê o futuro com otimismo: para 62% dos eleitores, o Brasil está em crise econômica com dificuldade de superar. Para 42%, a responsabilidade por essa situação é do governo federal. Historicamente, a proximidade de eleição dá ao brasileiro esperança. E o bolso é uma bússola importante.

Hoje, a crença de que o governo é capaz de elaborar um plano para superar a crise econômica é pequena. Grande parte dos eleitores vê a vida pessoal "muito afetada" pela inflação/custo de vida (60%), por dívidas (39%), pelo desemprego (38%) e tem contas atrasadas (32%). Para essas pessoas as expectativas de futuro são ruins, com poucas chances de melhorar.

Além disso, a dinâmica eleitoral deve fluir diferente em 2022 do que foi em 2018: o eleitor tem mais conhecimento do que são as fake news, quem as cria e como pode ser manipulado. Não acredita da mesma forma em qualquer invenção, como o caso da "mamadeira de piroca", por exemplo, e 40% diz reconhecer quando recebe uma notícia falsa. É um contexto diferente para o bolsonarismo, acostumado a bombardear o WhatsApp e a manipular informações.

Talvez isso seja um indício de que os eleitores estão chegando a um nível importante de crítica e conscientização sobre as fake news, o que obriga quem utiliza esse método a ser cada vez mais sofisticado.

Do outro lado, o favoritismo de Lula no Nordeste (55%), com ascensão no Sudeste (38%), e, principalmente, entre as mulheres (47%), maioria do eleitorado, mostra um cenário mais consolidado.

Pode ser que a diferença entre os dois candidatos diminua ainda mais nas próximas semanas. Porém, quando as campanhas oficiais estiverem nas ruas, a propaganda eleitoral for veiculada em todo o seu potencial e os debates acontecerem, Bolsonaro terá de mostrar mais do que passeios de moto e ataques à democracia para superar o candidato petista, que tem a seu favor a memória de seu governo, a capacidade de conciliação e o carisma.

O Instituto FSB ouviu, por telefone, 2 mil pessoas entre 22 e 24 de abril. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.