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De volta ao passado, só falta Ratinho empunhar um cassetete na TV
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As ofensas e ameaças de Ratinho à deputada Natália Bonavides (PT-RN), incluindo a sugestão de "pegar uma metralhadora" contra ela por causa de um projeto legislativo, reforçam a guinada do apresentador em direção aos velhos tempos, quando fazia um programa policial sensacionalista e brandia um cassetete na televisão.
Na opinião do apresentador, a deputada merece uma "metralhadora" porque apresentou um projeto de lei em que propõe uma alteração no Código Civil no momento do casamento. Em vez de quem oficia a cerimônia terminar dizendo "vos declaro marido e mulher", o projeto sugere que passe a dizer "firmado o casamento"'. Seria, na visão de Natália Bonavides, "uma sentença neutra, sem nenhum risco de violentar casais do mesmo sexo".
Disse Ratinho no rádio: "Natália, você não tem o que fazer, não? Você não tem o que fazer, minha filha? Vá lavar roupa a caixa do teu marido, a cueca dele, porque isso é uma imbecilidade querer mudar esse tipo de coisa. Tinha que eliminar esses loucos? Não dá para pegar uma metralhadora, não?".
Esse "novo velho" tom tem muita relação com os tempos políticos atuais. Ratinho é um apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, e o seu filho, Ratinho Júnior (PSD), se elegeu governador do Paraná, em 2018, na onda bolsonarista.
Nos últimos três anos, Ratinho tem dado seguidas declarações de apoio ao presidente e utilizou o seu programa no SBT como palco para entrevistas com mais de uma dezena de autoridades do governo e aliados, incluindo o próprio Bolsonaro, seu filho Eduardo e o então ministro Sergio Moro, chamado por ele de "nosso herói".
Assim como Bolsonaro, o apresentador desqualifica as críticas e a mídia. "Esse pessoal que fica procurando picuinha, procurando pelo em ovo, querendo combater o nosso presidente... Vocês estão prejudicando o país", disse na TV, em 2020.
Curiosamente, como registrou o site Noticias na TV, nestes últimos três anos o programa de Ratinho perdeu cerca de 40% do seu público e deixou a vice-liderança. A atração do SBT está desde 2019 em terceiro lugar na Grande São Paulo e no PNT (Painel Nacional de Televisão).
Em 2018, entre os paulistas, o programa de Ratinho havia fechado com 9,4 pontos de média anual, o índice mais alto desde 2003. Em 2019, a audiência caiu para 8,7; em 2020, foi para 6,2; e a de 2021, até 6 de dezembro, estava em 5,4 --queda de 4,0 pontos de média ou de 42,6% em três anos.
Perdendo audiência no SBT de forma sistemática há três anos, Ratinho tem elevado o tom das barbaridades que diz para chamar a atenção. E tem usado para isso o programa na rádio que pertence ao seu grupo empresarial. Em fevereiro deste ano, defendeu uma intervenção militar para "consertar o país".
Do cassetete ao humor
Ratinho começou na televisão em 1991, como repórter de Luiz Carlos Alborghetti, que apresentava um programa policial na CNT. "Fui eu que falei para o Alborghetti usar o cassetete", ele me disse numa entrevista. Imitando seu "padrinho", conquistou o próprio programa. E ganhou alcance em 1997, ao se transferir para a Record. No ano seguinte, mudou-se para o SBT.
A virada ocorreu no início dos anos 2000, acatando uma antiga sugestão do produtor Valentino Guzzo (1936-1998), que certa vez disse a ele: "Por que você não usa a sua veia de brincar, de entretenimento, de humor, que ela é mais forte que a outra. Você vai ficar mais querido do que fazendo programa policial".
Em 2018, no programa "Poder em Foco", explicou a virada: "Nós acompanhamos não a mudança da sociedade, mas da comunicação. No primeiro momento eu fazia um programa de sensacionalismo, mas fazia humor também. Agora, vendo que a internet estava dominando o sensacionalismo, resolvi ir para o entretenimento".
Pelo visto, está de volta a época de brandir o cassetete no estúdio.
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