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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fala de Marieta no "Altas Horas" relembra veto da Globo a Chico Buarque

Marieta Severo durante participação no "Altas Horas", na Globo  - Reprodução / Internet
Marieta Severo durante participação no "Altas Horas", na Globo Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

26/12/2021 13h17

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Um dos destaques do "Altas Horas" neste sábado (25) foi a participação de Marieta Severo. Em uma fala que repercutiu bastante, pela alusão aos dias atuais, a atriz lembrou os tempos da ditadura militar (1964-1985), um "período tenebroso, que alguns aí clamam de volta".

Disse Marieta: "Mas com a minha experiência, minha vivência de ter passado por esses períodos todos, digo que não há nada pior. É insuportável não ter liberdade, é insuportável viver sem democracia".

Serginho Groisman relembrou que no período da ditadura Marieta disse que não queria fazer televisão. A atriz, então, explicou o motivo:

"Você tá tocando numa questão... Era na época da ditadura, uma época terrível, que a a gente espera que não volte nada semelhante, parecido. Existia uma censura, uma impossibilidade de Chico [Buarque, cantor e ex-marido de Marieta] se apresentar na televisão, e eu achava que não era justo eu me apresentar com ele sendo censurado. Foi por isso".

E acrescentou: "Eu fiquei uns dez anos sem fazer televisão, e o motivo foi esse, não foi uma opção profissional de 'quero fazer mais teatro'".

Uma questão que ficou no ar, sem ser mencionada, é que a fala de Marieta também se refere à Globo. Em diferentes ocasiões, Chico Buarque afirmou que foi censurado pela emissora nos anos 1970.

Em 2013, em texto publicado no jornal "O Globo", em defesa do direito de Roberto Carlos impedir uma biografia não autorizada a seu respeito, Chico escreveu: "Nos anos 70 a TV Globo me proibiu. Foi além da Censura, proibiu por conta própria imagens minhas e qualquer menção ao meu nome. Amanhã a TV Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as minhas imagens mais bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas músicas. Vai precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor".

Em resposta, o jornal afirmou: "Somos a favor do direito de o biógrafo exercer seu trabalho, sem qualquer tipo de censura prévia. Assim como do direito do biografado de apelar à Justiça em busca de qualquer reparo. Lamente-se, apenas que, nesta saudável discussão, alguns tentem constranger O Globo com alusões descabidas".

No documentário britânico "Muito Além do Cidadão Kane", exibido em 1993, Chico diz: "A censura proibia músicas minhas. A censura que era oficial, do governo. Agora, a TV Globo se encarregou de ser mais realista que o rei e reforçar a censura proibindo meu nome".

Antes, em 1976, numa entrevista à "Veja", reproduzida no "Jornal do Brasil" dez anos depois, Chico disse: "Na época em que mais precisei de dinheiro, em que a censura estava mais brava, eu todo endividado, o pessoal da Globo, ninguém em particular, apenas um porta-voz da máquina Globo de Televisão, disse que eu estava proibido de aparecer em seus programas".

E ainda: "Porque nunca ninguém se responsabilizou pela proibição, porque a Globo é prepotente, resolvi me afastar voluntariamente de seus programas. Chegaram a dizer que não precisavam de mim. Eu também não preciso dessa máquina desumana, alienante. Então, estamos quites".

Marieta fez três novelas na Globo na década de 1960: "O Sheik de Agadir" (1966), seu primeiro trabalho na TV, "Anastácia, a Mulher sem Destino" e "O Homem Proibido" (ambas em 1967). Só voltou a trabalhar na Globo na década de 1980, na minissérie "Bandidos da Falange" e na novela "Champagne", ambas em 1983.

Em 1986, numa aproximação articulada pelo diretor Daniel Filho, o cantor e compositor acertou com a Globo a realização de um programa musical que se tornou histórico, "Chico & Caetano". A atração foi ar mensalmente entre abril e dezembro daquele ano.