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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Documentário sobre a prisão de Lula ganha novos sentidos após a posse

Em 8 de novembro de 2019, Lula deixou a carceragem da PF em Curitiba; Gleisi Hoffmann e Janja aparecem atrás dele - CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS//ESTADÃO CONTEÚDO
Em 8 de novembro de 2019, Lula deixou a carceragem da PF em Curitiba; Gleisi Hoffmann e Janja aparecem atrás dele Imagem: CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS//ESTADÃO CONTEÚDO

Mauricio Stycer

Colunista do UOL

06/01/2023 07h01

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Exibido originalmente quatro dias antes da posse de Lula, o documentário "Visita, Presidente" ganhou novas camadas após os discursos presidenciais de 1º de janeiro de 2023. Para quem não viu ou deseja rever, neste sábado (07), às 23h, a GloboNews volta a apresentar o filme conduzido pela jornalista Julia Duailibi.

Com direção da própria Julia e de Maira Donnici, "Visita, Presidente" reconstitui o período de 580 dias, entre 7 de abril de 2018 e 8 de novembro de 2019, passado por Lula em uma cela da Polícia Federal, em Curitiba.

O próprio Lula não quis dar depoimento para o filme, mas claramente não se opôs à realização. Trata-se de uma constatação fácil de fazer pelo volume de depoimentos de figuras muito próximas ao presidente. De Janja da Silva a Ricardo Stuckert, de Gleisi Hoffmann a Fernando Haddad, passando por assessores de Lula, policiais federais e os seus advogados, todos relatam detalhes sobre o período e ajudam a visualizar a situação passada na prisão.

Várias destas pessoas nunca haviam feito comentários públicos sobre o período da detenção de Lula, o que reforça o interesse do documentário. Mais que isso, como observa Julia ao final, os entrevistados formam uma espécie de tropa muito fiel, com impacto significativo sobre o governo que está começando. Diz ela: "Durante a campanha, Lula insistia em dizer que o passado havia ficado para trás. Mas os dias de Curitiba estão personificados em seu terceiro mandato".

Os exemplos são muitos, lembra a jornalista. Janja, a então namorada que mandava e recebia cartas diariamente, virou a primeira-dama. O assessor que despachava da porta da Polícia Federal, Marco Aurélio Santana Ribeiro, conhecido como Marcola, é o novo chefe de gabinete da presidência da República. A secretária do Instituto Lula, Claudia Troiano, estará na antessala do gabinete presidencial. Um dos agentes da PF, Jorge Chastalo Filho, fará parte de sua segurança pessoal.

Sem falar, é claro, de Fernando Haddad, convocado por Lula na prisão para assumir a candidatura presidencial em 2018, que hoje é ministro da Fazenda. E Gleisi Hoffman, presidente do PT, que nunca esteve tão poderosa, como lembra Julia.

No discurso de posse, no domingo (01), Lula disse trazer uma mensagem de "esperança e reconstrução", mas também falou sobre a necessidade de punir crimes que tenham sido cometidos pelo governo anterior. Falando sobre a forma como a gestão Bolsonaro lidou com pandemia de coronavírus, disse que "as responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes".

No segundo discurso, no parlatório, Lula disse: "Faltam recursos para a compra de merenda escolar; as universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo; não existem recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. Quem está pagando a conta deste apagão é o povo brasileiro". Em resposta, o público começou a gritar: "Sem anistia!"

Como diz Julia Dualibi em "Visita, Presidente", "por mais que Lula tente se distanciar das experiências do passado, dia após dia elas soam com maior intensidade, num discurso mais duro, numa escolha mais pragmática. Cada vez mais Lula parece nos dizer: sua história passa por Curitiba". Estes primeiros dias do terceiro governo Lula parecem confirmar essa ideia.