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Lula gostou da entrevista, mas Natuza fez seu papel e trouxe muita novidade
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Em mais de um momento durante a entrevista a Natuza Nery, na GloboNews, nesta quarta-feira (18), o presidente Lula deixou explícito que estava adorando o encontro.
"Eu tenho tempo", disse Lula quando a repórter alertou que estava chegando perto do tempo estabelecido. "O senhor nos deu 50 minutos". No final, a entrevista durou 54 minutos.
Concluindo a entrevista, Natuza observou que conseguiu fazer 15 das 19 perguntas que planejou. O que levou Lula a pedir: "Pode fazer". O presidente ainda disse: "Vamos fazer outro programa!" Ao que a jornalista observou: "Quando o senhor quiser falar, vamos ouvir".
Para nós jornalistas, críticos por natureza, o fato de um político apreciar uma entrevista não é um bom sinal. Parece dizer que não fizemos direito o nosso trabalho.
Não creio que foi o caso nesta primeira entrevista exclusiva do presidente. Em primeiro lugar, por uma questão básica: várias perguntas de Natuza renderam declarações fortes de Lula.
O presidente ofereceu meia dúzia ou mais de falas surpreendentes ou polêmicas. Lula deixou claro como enxerga o papel dos militares na crise, a atuação dos serviços de inteligência no dia 8, o que pensa do ministro José Múcio, de Bolsonaro, de Anderson Torres, CPI, intervenção no Distrito Federal (em oposição à decretação do GLO), entre outros assuntos.
Por este critério mais elementar, não há reparo nenhum a fazer.
No bloco de questões sobre economia, Natuza fez duas boas perguntas - uma sobre como elevar a arrecadação sem aumentar imposto e outra sobre o fato de Lula enxergar responsabilidade social e responsabilidade fiscal como antagônicas.
Após Lula prometer fazer "uma reforma tributária de verdade", Natuza observou que o presidente estava sendo excessivamente otimista: "Para isso, precisa de apoio no Congresso. Hoje, o que o senhor tem de base, pelo menos do que foi negociado, não dá conta de emenda à Constituição."
Também fez uma questão, sobre a política do teto de gastos, que gerou uma resposta polêmica sobre a independência do Banco Central. "É uma bobagem achar que um presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente é quem indicava", disse ele.
Alguém poderá dizer que Lula gostou da entrevista por que as perguntas foram fáceis. Porque Natuza não o colocou contra a parede. As perguntas sobre economia e as prováveis dificuldades no Congresso mostram que não foi bem assim.
Eu diria que um presidente que está no cargo há apenas 18 dias e que, no meio disso, assistiu a uma tentativa de golpe de Estado, tem direito a uma entrevista cordial. E cordialidade não é sinônimo de submissão ou ajuda ao entrevistado.
Natuza foi cordial sem deixar de ser firme, dura em alguns momentos. O bom clima não impediu que a entrevista gerasse muita informação inédita, importante, sobre os bastidores dos atos golpistas.
Cumpriu o seu papel de informar.
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