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Inteligência militar não serviu para alertar presidente, diz Lula sobre 8/1

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

18/01/2023 18h24Atualizada em 19/01/2023 08h24

Em sua primeira entrevista após a posse e a depredação das sedes dos Três Poderes, o presidente Lula (PT) afirmou ter havido um "erro" dos serviços de inteligência militar que não o alertaram sobre a possibilidade dos ataques golpistas. Em outro recado às Forças Armadas, disse à Globonews que quem quiser fazer política tire a farda".

Nós temos inteligência do Exército, nós temos inteligência do GSI [Gabinete de Segurança Institucional], nós temos inteligência da Marinha, nós temos inteligência da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso."
Lula, durante entrevista à Globonews

Em resumo, o presidente disse que:

  • o serviço de inteligência contra ataques golpistas "não existiu";
  • os militares ligados aos atos serão punidos "não importa a patente";
  • ter tido a "impressão" de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "sabia de tudo" e de que invasão era o "começo de um golpe";
  • ser contra a criação de uma CPI para investigar as invasões: "Pode criar confusão";
  • ter compromisso com desmatamento zero na Amazônia até 2030 e que, para isso, precisa da ajuda dos miliares e da PF;
  • Jair Bolsonaro não é "carta fora do baralho" na eleição de 2026
  • a autonomia do Banco Central é "bobagem" e atual meta de inflação, "exagero"

Lula estava estava em Araraquara, no interior de São Paulo, quando houve a invasão e a depredação de prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal), na tarde de 8 de janeiro.

Segundo Lula, as últimas informações que recebeu na ocasião foram que só havia 150 pessoas no acampamento de bolsonaristas próximo ao quartel do Exército, no DF, e que não seria mais permitida a entrada de ônibus com golpistas na cidade.

"Viajei para São Paulo na maior tranquilidade. E aconteceu o que aconteceu", afirmou à jornalista Natuza Nery (leia a íntegra da entrevista).

Punição aos militares envolvidos no ato

"Não importa a patente. Não importa a força que ele participe, todos que a gente descobrir que participaram dos atos serão punidos. Terão que ser afastados das suas funções e vão responder perante a lei", disse.

Lula afirmou ainda que aqueles que quiserem fazer política, deverão tirar a farda e renunciar ao cargo: "As pessoas estão aí para cumprir suas funções, e não para fazer política. Quem quiser fazer política, tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vá fazer política."

Lula, que já havia demonstrado desconfiança em relação ao militares que trabalharam no dia do atentado contra o Planalto, confirmou hoje se terá uma reunião com o ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha.

Em 18 dias de governo, o petista já dispensou mais de cem militares lotados em diferentes órgãos ligados à Presidência.

'Ordem de Bolsonaro'

O chefe do Executivo sugeriu ainda que o antecessor, que está nos EUA desde o dia 30 de dezembro, tinha conhecimento sobre os atos golpistas e que seus apoiadores estavam "acatando ordem e orientação" do ex-presidente.

E o silêncio dele, mesmo depois do acontecimento aqui, me dava a impressão que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que tinha a ver com aquilo que estava acontecendo. Obviamente que o quem vai provar isso são as investigações."

"Mas a impressão que me deixava era isso. Possivelmente o Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe", disse.

Lula também afirmou que acreditar que o ex-ministro Anderson Torres tinha conhecimento de que os ataques aos prédios públicos seriam realizados e que, quando voltou ao Brasil e foi preso, estava sem o seu próprio telefone.

"Ele sabia o que ia acontecer. Foi embora [para os Estados Unidos, onde passava férias] e quando voltou [ao Brasil], deixou o celular lá."

Aliado de Bolsonaro, Torres havia assumido a Secretaria da Segurança do DF. a convite de Ibaneis Rocha (MDB), que foi temporariamente afastado do governo do DF.

CPI dos atos golpistas

Diferentemente de seus aliados, Lula afirmou que não apoia a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os atos de 8 de janeiro porque pode criar uma "confusão tremenda".

"Nós temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu neste país. Uma comissão de inquérito pode não ajudar e ela pode criar uma confusão tremenda, sabe? Nós não precisamos disso agora", afirmou.

Eleições de 2026

Lula disse ainda que a trajetória política de Bolsonaro vai depender das investigações contra ele e do trabalho da justiça. Por isso, ainda não o considera uma "carta fora do baralho" na próxima corrida presidencial.

"Em todas as provocações que ele fez, vai ter muito processo contra ele, ou seja, vai depender muito da justiça. Eu não considero ninguém carta fora do baralho. Não considero ninguém", justificou.

Autonomia do BC e meta de inflação

O presidente questionou o atual patamar dos juros no país e chamou a autonomia do Banco Central como uma "bobagem". Também afirmou considerar exagerada a atual meta de inflaçãode 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

Neste país, se brigou muito para ter um BC independente, que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente [da República] era quem indicava."

"Eu duvido que esse presidente do BC [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Eu duvido. Por que, com o BC independente, a inflação está do jeito que está e o juros está do jeito que está?", questionou.

Reforma no Alvorada

O presidente também reclamou do estado de abandono do Palácio do Alvorada — já exposto pela primeira-dama Janja — e, ironizou ser o único presidente da República no mundo que não tem onde morar. O casal pretende se mudar para a residência oficial até o final do mês, após a realizaçao de uma reforma.

"O único caso da história do mundo em que o presidente da República não tem onde morar", disse. "Morei oito anos lá [no Alvorada], deixei aquilo limpinho, bem cuidado, para a Dilma [Rousseff, presidente entre 2011 e 2016]. E agora quando nós fomos lá ver, eu sinceramente não sei o que foi feito no Alvorada", criticou.

Combate ao desmatamento

Na entrevista, Lula também reforçou o compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.

O compromisso é, até 2030, ter desmatamento zero na Amazônia. E eu vou buscar isso a ferro e fogo. E vou precisar das Forças Armadas, vou precisar da Polícia Federal para que a gente possa resolver esse problema definitivamente no Brasil."