Natália Portinari

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Reportagem

CGU investiga empresa em nome de 'laranja' que fez obra em Mossoró

A Controladoria-Geral da União (CGU) está investigando os contratos do governo com a R7 Facilities, responsável pela obra de manutenção no presídio de Mossoró (RN), alvo também de uma apuração no Tribunal de Contas da União (TCU) após a fuga de dois detentos.

Como revelou o Estado de S. Paulo, a empresa de manutenção predial que detém contratos milionários está em nome de um beneficiário de auxílio emergencial que mora na periferia de Brasília, Gildenilson Braz Torres.

Em documento produzido sobre o caso, a área técnica da CGU recomendou a convocação do representante formal da empresa para se manifestar "sobre as informações divulgadas pela imprensa relativas à ocultação dos verdadeiros proprietários" e orientar os ministérios a fazer o mesmo.

O órgão também prepara a abertura de um procedimento para eventual responsabilização da empresa pela Lei Anticorrupção, pela suspeita de "criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo".

A CGU vê elos da empresa com seu fundador, Ricardo de Souza Lima Caiafa — que ainda é dono do domínio de internet da empresa, "r7facilities.com.br" —, candidato a deputado distrital em 2022 pelo PL, e com Carlos Tabanez, policial civil aposentado que concorreu ao mesmo cargo naquele ano pelo MDB, suspeito de ser sócio oculto da empresa.

Em um banner distribuído internamente na empresa, Tabanez desejou "muita paz e saúde" para os funcionários. "Obrigada por pertencer à Família R7 Facilities - Com carinho, Tabanez & Direção da R7 Facilities".

"É mais provável que tenha havido uma troca efetiva de controle entre Caiafa e Tabanez" quando o fundador deixou a sociedade, em 2020, ou que Tabanez tenha ligação com o verdadeiro proprietário da empresa, apontam os técnicos da CGU no informe.

O que diz a empresa

Após a publicação desta reportagem, a R7 Facilities disse ao UOL, em nota, que "tem um histórico inquestionável de excelência na prestação de seus serviços nos setores públicos e privado, atestado pelos atestados de capacidade técnica fornecidos por órgãos públicos e empresas privadas e pelos 116 contratos públicos firmados entre 2016 e 2023".

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"Como é praxe na administração pública, esses contratos são conquistados por meio de rigorosos processos de licitação e acompanhados sistematicamente tanto por gestores públicos quanto por órgãos de fiscalização e controle." A empresa diz ainda que é "tecnicamente sólida e financeiramente robusta".

Contratos com o governo federal

A R7 tem contrato com 22 órgãos do governo federal, dos quais recebeu R$ 372 milhões entre 2016 e 2024, segundo levantamento da CGU. O valor total dos contratos firmados pela empresa nesse período é de R$ 528 milhões.

O maior volume de recursos veio do Ministério da Educação, que desembolsou R$ 110,8 milhões à empresa. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, o Ministério dos Transportes pagou R$ 80 milhões, e o dos Direitos Humanos e Cidadania, R$ 71 milhões.

Ao recomendar que ministérios convoquem a empresa para dar explicações, a CGU destaca que essa recomendação seja feita especialmente ao Ministério da Gestão e Inovação (MGI), que contratou a R7 Facilities já em 2024. Os demais contratos são anteriores.

Facilitação na fuga

A investigação da Polícia Federal aponta para a suspeita de ter havido facilitação na fuga dos dois presidiários. Como mostrou a Folha, os instrumentos usados para retirar a luminária da cela e cortar a cerca de proteção vieram da obra que estava sendo executada pela R7 Facilities.

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A PF ainda conduz buscas para capturar os dois fugitivos, ligados ao Comando Vermelho, e já prendeu suspeitos de terem auxiliado a fuga.

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