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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Câmara dá as costas ao país e vota escola em casa para agradar a Bolsonaro

Bolsonaro cumprimenta Arthur Lira - Reprodução/Twitter
Bolsonaro cumprimenta Arthur Lira Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

19/05/2022 17h32Atualizada em 19/05/2022 17h32

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As manobras diversionistas do ex-capitão têm um repertório incrível de pautas que estão descoladas da realidade e das urgências do país. Agora, contam com eco da Câmara dos Deputados, liderado pelo anão do orçamento secreto Arthur Lira, que vota a toque de caixa a promessa de campanha do ex-capitão, o tal homeschooling, ou escola em casa.

Factoides para dispersar o debate. Demissão do presidente da Petrobras. Privatização da Petrobras. Demissão do almirante do Ministério de Minas e Energia. E o "perdão" ao tal Daniel Silveira, condenado portador de tornozeleira eletrônica. Bravatas e agendas. Avanços contra o ministro Alexandre de Moraes. Homeschooling, pais livres para educar seus filhos em casa.

E no país real: inflação histórica, que vai chegar a dois dígitos, segundo entendem alguns analistas; terras indígenas assacadas por garimpeiros; o maior desmatamento já registrado na Amazônia; desemprego, fome, famílias morando na rua; descrédito internacional - sim, Brasil é um pária!

A estratégia é a criação de bolhas - fantasias - onde vivem, numa realidade paralela, o ex-capitão, seus asseclas e puxa-sacos de plantão, um mundo de delírios, e que tentam transformar a agenda do país na agenda dos debates medievais.

Um governo que defende a posse da arma de fogo pelos cidadãos como política de segurança pública; um governo que acredita que liberdade de expressão é o uso das palavras para ameaçar, desqualificar as instituições democráticas ao gosto de trogloditas - agora, sim, retrocedendo ao tempo das cavernas.

Esse script em andamento, no desespero do ocaso de um mandato sem perspectiva de continuação, prenuncia mais atos para dispersar do foco, a falência absoluta do desgoverno que agora tenta recuperar o discurso das promessas feitas aos eleitores, que incrivelmente acreditaram e votaram no ex-capitão.

Porém, a realidade é maior do que os perdigotos do ex-capitão que, por falta de vocabulário e de referências intelectuais, esbraveja diante de plateia perplexa, mas omissa em dar limites claros às vociferações contra a democracia.

Mas o coro feito por organizações da sociedade civil, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), oportunamente conduzido pelo ministro Edson Fachin, não parece desestimular o ex-capitão e seus estrategistas, que insistem na repetição enfadonha e grotesca de ameaças às instituições.

Ao contrário, parece animá-lo, como o bufão que se encoraja pela claque da corte.

E ele segue na sua saga.

O ex-capitão brecou, com a capatazia do seu quase ministro das Relações Exteriores, Carlos França, a vinda de observadores internacionais para o acompanhamento das eleições no país, como pretendia o TSE. Os argumentos para desconvidar observadores mal disfarçam o incômodo de ter que explicar presencialmente, a eles, que a tentativa de descreditar o sistema eleitoral esbarra na simples constatação de que as urnas eletrônicas funcionam.

A tolice do ex-capitão tem foco.

Propõe, como se não houvesse contagem pública dos votos; propõe, como se não houvesse auditoria externa dos votos; propõe, como se não houvesse contagem pelos tribunais regionais; propõe, como se não houvesse boletins de urna. É claro que ele sabe que funciona o sistema que usou para ser eleito sete vezes, ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados por quase 28 anos. Foi eleito por esse sistema, mas tenta desacreditá-lo quando sabe que não terá os votos para continuar nos seus desgovernos.

Tenta acossar o STF, o TSE, como se tivesse poder para intimidar. Usa a linguagem própria dos desesperados, para manter acordada a sua tropa - que não é o Exército brasileiro - mas um séquito que usa as mídias digitais para xingar, ameaçar, intimidar, mentir e propagar uma realidade fictícia em que a democracia não tem lugar.

E agora, homeschooling. Acorde-se com um barulho desses.