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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PF reage à desmoralização; Bolsonaro patina na corrupção

Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro durante evento no Palácio do Planalto em 4 de fevereiro - Getty Images
Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro durante evento no Palácio do Planalto em 4 de fevereiro Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

23/06/2022 09h54Atualizada em 23/06/2022 09h57

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Perdeu! O ex-capitão tem motivos para insônia.

Juntou ao seu lado uma tropa fiel, que se submete com todas as mesuras da vassalagem, aos seus desmandos - aparentemente porque recebe em troca acessos nunca imaginados em poder. Isso vai ficando demonstrado com a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação, porta-voz dos interesses de pastores que usam o discurso da fé para um troca-troca não republicano, para se dizer o mínimo, com os milhões de reais do Fundo da Educação.

A submissão ao técnico do time, como o próprio ex-capitão se qualifica - esbravejando que manda no governo e que no governo dele não haveria corrupção - deixa a dúvida da autonomia do ex-ministro para agir com desfaçatez.

Os indícios de corrupção dentro do desgoverno já apareciam na CPI da Pandemia, com negociações denunciadas e não apuradas de tentativas de negociação milionária de vacinas. O silêncio do ex-capitão, diante de advertências para o balcão de negócios no Ministério da Saúde, foi evasivo e também se evadiu sem dar explicações o seu ministro Pazuello, assessor dele abrigado no Palácio do Planalto.

O desmonte deliberado dos órgãos de controle, reduzindo-lhes a autonomia nas variadas esferas da administração pública, inclusive se apoiando na sonolência de uma Procuradoria Geral da República e na oportunista aliança com Lira e seu séquito de gulosos engolidores de orçamentos secreto - verbas que não chegam para a Educação, Saúde e infraestrutura dos municípios, mas vai criando seguro garantia para novos mandatos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

A vergonha que o país passa diante do mundo - pela incompetência e inépcia expressas à exaustação pelo ex-capitão - soma-se também à iniquidade da omissão, que deixa as populações indígenas à mercê do crime organizado na Amazônia - ela própria sendo dizimada - e à ideologização das decisões judiciais contaminadas pela lógica bolsonarista, que invoca Deus como testemunha de malfeitos para praticar ignomínias contra a vida. A menina estuprada aos 10 anos de idade, grávida aos 11 anos sem o direito de interromper a gravidez, é violentada também pelo Estado que fagocita o ex-capitão.

É como um país vai sendo carcomido, por dentro, nos seus valores, por vermes que silenciosamente destroem as estruturas. Assim, assalta os direitos da população na sua representatividade, inclusive questionando a voz expressa nas urnas eletrônicas, contra as quais também levanta dúvidas com o objetivo de tumultuar. Calou-se antes, tendo sido eleito e elegendo a sua prole por esse mesmo sistema, sem esboçar qualquer dúvida na contagem dos votos recebidos.

É assim que a cartilha de desmonte funciona. Junto com o discurso moralista e uma religiosidade histriônica, sem obediência a qualquer princípio inspirado pelo divino, promove a ávida ocupação de cargos que garantem benesses e benefícios não auditáveis.

Perdeu!

Confiante em que o troca-troca que também engendrou na Polícia Federal poderia abafar e impedir todos os movimentos de homens e de mulheres que optaram pela carreira porque têm confiança na lei, o ex-capitão foi surpreendido pela prisão de um fiel subordinado seu. O negociante de bíblias, de barras de ouro, de construção e templos com os recursos públicos, íntimo de pastores, agora presos, figurinhas fáceis no Palácio do Planto, onde encontravam as portas abertas, e andavam por aí sem qualquer cerimônia.

O ex-capitão perdeu o discurso que deu a uma parcela da população, garantias de honestidade na administração pública federal. Sim, tem corrupção sim. Além da ausência absoluta de empatia, excesso de incompetência, muita preguiça, gosto por férias permanentes, exibicionismo em motociata.

E virá mais tentativa de terceirização: o técnico agora quer tirar do fogo a cara que ofereceu em franco aval ao seu ex-ministro, na cadeia, com denúncia de corrupção.

Perdeu!