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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro desmonta o país com ajuda da síndrome do boi sonso

Presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco - Marcos Oliveira/Agência Senado
Presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Colunista do UOL

07/07/2022 11h40Atualizada em 07/07/2022 11h42

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A síndrome do boi sonso é um cabo eleitoral do ex-capitão.

É um diagnóstico não catalogado oficialmente. Mas proponho aqui, considerando o conjunto de sintomas que acomete o portador, que ela seja causa para aposentadoria compulsória. Para ficar mais concreto, um candidato a inaugurar essa nova condição sanitária: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

A síndrome do boi sonso apresenta um tom de voz próprio. A entonação é meio dormida, meio embolada, meio sonífera para a audiência, e traz um conjunto de palavras igualmente inacessíveis, do ponto de vista do vocabulário mundano do dia a dia, mas revela uma inaudita preocupação em parecer solene.

Portanto, para ser um boi sonso, é preciso, em primeiro lugar, não parecer que é sonso, mas sim que tem compromisso com temas absolutamente superiores. Um número absurdo de pessoas passando fome, mas o sonso fica focado nas questões comezinhas próximas a seu estômago e ego. Um exemplo. O país experimenta a triste e agonia de 33 milhões de pessoas passando fome. O que ocupa o portador da síndrome? A organização de empregos para colegas de parlamento. Corre com velocidade impensável proposta para que senadores e deputados possam ter emprego de parlamentar concomitantemente ao de embaixador. Ter salário pago com todas as regalias possíveis em países de primeiro mundo - como embaixadores, sem perder igualmente as regalias do próprio mandato. Claro, no circuito Elisabeth Arden: Paris, Nova York, Londres e Roma ou até Lisboa...

E não basta. O portador da síndrome do boi sonso senta-se em cima de investigações que podem contar ao Brasil acerca de uso de dinheiro que iria para escolas e que teria sido direcionado para a compra de barras de ouro e de bíblias em lugar de atender às demandas da educação. Afinal o país do futuro está no futuro, e com esse o portador da síndrome não tem o menor compromisso.

De mãos dadas com parceiros da sua igualha - aquele que garantiu a escadinha para ocupar o cargo de presidente do Senado, o tal Alcolumbre, que não trai a natureza de estar o mais perto possível de onde emana um poderzinho, célere na sua agenda que visa nada mais nada menos que ele mesmo.

Mas a síndrome do boi sonso é complexa. O diagnóstico diferencial é a maneira intensa e ágil com que garante a própria sobrevivência. Esse é o mais importante: o boi sonso pensa em si e nos seus.

Voltando ao personagem símbolo de tal síndrome, caso fosse ela reconhecida como mal a ser tratado, tendo apenas como referência o que se verifica no Senado Federal, pela via da sua presidência. É ela que deixa correr solta uma entusiasmada iniciativa em mudar a Constituição, para jogar dinheiro na economia via benefícios financeiros em auxílios diversos. Considera menos os ganhos dos que precisam e mais os efeitos para o seu futuro - que quer garantir - de mais dois anos como presidente do Senado. É o que importa. Deixa que o conto do vigário iluda aqueles que acreditam que vão se beneficiar. A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) "Kamikaze" - a compra dos votos para garantir a reeleição de Pacheco, de Arthur Lira e do ex-capitão.

O boi sonso, normalmente - sem qualquer identificação com um personagem - é basicamente um covarde. Geralmente isso aparece nos movimentos do corpo - estudadamente comedidos, no olha esgazeado durante entrevistas coletivas, em uma protuberância mal disfarçada na barriga crescida pela ingestão de banquetes seguidos de negociações em que o bem comum passa longe.