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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milagres acontecem, mas é preciso planejar e treinar

Cadetes participam de atividade no centro de treinamento físico da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ) - Marcelo Justo/UOL
Cadetes participam de atividade no centro de treinamento físico da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ) Imagem: Marcelo Justo/UOL

Colunista do UOL

07/06/2022 00h00

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O problema do Brasil é um sistema político permissivo que manipula um sistema administrativo ultrapassado
Thomas Skidmore

Esse final de semana assisti ao filme Top Gun - Maverick, sucesso dos cinemas, estrelado por Tom Cruise. Como esperado, programa leve, no qual o mocinho sempre leva a melhor e as mensagens hollywoodianas para o povo americano são de superação e de superioridade.

Sem dar spoiler, um grupo de aviadores de caça, os melhores da Marinha americana, é selecionado para uma missão quase impossível. O veterano piloto Maverick é chamado para treiná-los e o enredo se desenvolve nesse entorno, com egos inflados, mágoas pretéritas e amizades construídas.

O divertimento reafirmou um ensinamento de anos de carreira militar. O êxito de qualquer empreitada, seja uma operação de combate, seja uma atividade civil, percorre um caminho com fases bem definidas: planejamento, treinamento, replanejamento, execução, fatores inesperados e, finalmente, sucesso.

Não seria diferente em um enredo político no qual o destino do país, cercado de imensos desafios, estivesse em risco por uma eleição divisora e os objetivos a serem conquistados fossem a paz e o bem-estar sociais longe de serem alcançados. É preciso planejar, meticulosamente, e treinar, muito, para lograr êxito na missão.

Nos últimos meses, à sociedade vêm sendo apresentados planos, propostas, programas para que a governança nacional percorra alguns caminhos definidos nesses estudos e tenha melhores condições de arrancar o país desse lamaçal social, econômico e político que se meteu nos últimos anos.

O documento 22 PROPOSTAS PARA 2022, sob coordenação do apresentador Luciano Huck, é um desses estudos disponíveis no momento. Lançado há poucos dias, oferece ideias-força sobre vários temas.

Mas temos outros, promovidos por pensadores, entidades e até por candidatos. O DEVER DA ESPERANÇA, do Ciro Gomes, UMA PONTE PARA O FUTURO, do PMDB, O QUINTO MOVIMENTO, do Aldo Rebelo, UM PROJETO DE NAÇÃO, do Instituto Villas Bôas etc.

Lastimosamente, não conhecemos as linhas de pensamento dos dois candidatos mais bem colocados na corrida eleitoral (no dia em que escrevia este artigo, o Partido dos Trabalhadores lançou uma prévia de seu programa de governo). Uma estratégia que visa a evitar escorregões por declarações impensadas e inservíveis para a campanha.

Suas ideias, quando divulgadas, são difusas, superficiais, camaleônicas, imediatistas, baseadas quase sempre nas bases ideológicas extremadas e até colhidas nas bolhas digitais que oferecem como benchmarking os Trend Topics do Twitter.

Creem-se oniscientes a ponto de pregarem que a sociedade deve agarrar-se em suas mãos e segui-los vendada na trilha que eles escolherem.

O passado e o presente nos provam que não é uma boa opção cantarolar a música do Zeca Pagodinho: "deixa a vida me levar, vida leva eu...", e ser levado a essa triste situação social em que nos encontramos.

Os problemas são desafiadores e as respostas são urgentes. Vamos precisar instigá-los a se revelarem. Qual proposta para Educação, Saúde, Segurança Pública, Emprego, Ciência e Tecnologia, Inflação, Relações Exteriores, Meio ambiente etc.?

Como resolver, a meu juízo, a mais desafiadora de todas elas: desarmar a bomba-relógio dos gastos públicos sem suporte, o cheque especial populista que o país já está usando há bom tempo, com juros escorchantes, que serão pagos tão somente pela população. Já vimos isso, o agiota é duro e cobra com suor e lágrima da sociedade.

Quero deter-me em tema que mais domino: Forças Armadas. Aliás foco de muitas dúvidas por parte da população, em face da insistência do incumbente em buscar suporte nos seus quadros e sua confiabilidade.

Como os candidatos entendem o papel institucional das Forças Armadas? Como se comportarão liturgicamente em relação a elas? Qual o percentual de orçamento que defendem para a organização? Darão continuidade aos projetos estratégicos das áreas de cibernética, aeroespacial e nuclear? Reduzirão efetivos? Defenderão forças profissionais ou de conscrição? Oferecerão subsídios à indústria de defesa? Manterão as ações subsidiárias como complemento ao desenvolvimento nacional? Usarão militares em áreas civis da administração pública?

Seria estimulante que stakeholders de setores como o agronegócio, serviços, indústria e mercado financeiro também cobrassem duramente dos pretendentes ao cargo de chefe da nação as propostas relativas aos seus nichos, fazendo chegar à opinião pública, de forma simples e direta, o vácuo de pensamento dos candidatos.

As campanhas antecipadas estão restritas a uma briga ensandecida, uma verdadeira rinha de galos (por sinal proibida, mas não fiscalizada pelas autoridades competentes), onde o principal objetivo é aniquilar o "inimigo".

A questão dos debates é mais uma prova do descaso com os eleitores. "Só vou se você for. Se você for eu vou". Eis o cordão umbilical que os torna fiadores, um do outro, e escoima terceiros.

No filme, são escolhidas as equipes mais cooperativas para executarem a missão. As que demonstraram mais espirito de corpo e inteligência emocional. As que indicaram perseverança e fé genuína na missão.

Há uma máxima em ambientes militares durante a preparação para operações: treinamento difícil, combate fácil. Caros leitores, assumam-se como o Maverick, exijam doação extrema nos planejamentos, treinamentos e ação de seus candidatos. Escolham a melhor equipe para o Brasil e torçam para que os milagres aconteçam, como aconteceram no filme.

Paz e bem!