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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Humildade e determinação aos escolhidos nas urnas

Em 30 de Outubro, saberemos quem comandará o país nos próximos quatro anos. - Fernando Frazão/Agência Brasil
Em 30 de Outubro, saberemos quem comandará o país nos próximos quatro anos. Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

Colunista do UOL

04/10/2022 00h00

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A divulgação do resultado das urnas no domingo à noite deixou, por algumas horas, o país em compasso de espera.

À medida que os votos eram computados, as alterações de humores das torcidas variavam em uma ciclotimia da frustração ao entusiasmo e novamente à frustração.

Retornava para Brasília no horário da apuração. Nunca vi tanto interesse dos passageiros em acessar a internet do avião como nesse voo.

Cada minuto era uma eternidade. Enquanto a ampulheta girava e os percentuais se alteravam na tela do site escolhido para acompanhar a evolução, torcia-se por boas notícias.

Não foi uma eleição de propostas. Longe disso. O que menos se escutou foram sugestões concretas para solucionar os desafios do país.

Pouquíssimos candidatos estavam dispostos a esgrimir ideias. E os que se predispuseram, não foram aquinhoados com o voto no momento crucial do apertar o ENTER nas urnas.

Foi um pleito civilizado, com a vontade soberana do povo se refletindo ordeiramente. As instituições e as autoridades souberam conter os arroubos de acólitos indisciplinados, propiciando segurança para a tarefa de exercer a democracia na plenitude.

O eleitor vai precisar de mais um esforço cidadão para encerrar a corrida ao mais alto posto da República e a algumas cadeiras nos Estados da Federação.

Os candidatos vitoriosos devem agora assumir a postura de mosqueteiros: "um por todos, todos por um". As brigas precisam ser esquecidas.

Aos que seguem na luta rumo ao segundo turno, recomenda-se completar o alforge de ideias com propostas factíveis e compreensíveis aos eleitores.

Todo esse processo envolvendo agrupações de características políticas distintas, trouxe consequências que perdurarão por anos no imaginário de cada cidadão.

O poder da comunicação tradicional, mais uma vez, foi posto à prova. O emprego de tecnologias que atingem diretamente os cidadãos eleitores veio para ficar.

Ele gargalha com os memes, lê as mensagens de WhatsApp, passeia no Instagram, acessa o Twitter, o TikTok e tantos outros aplicativos sentado ou em pé nos ônibus, metrôs, Uber etc.

Não tem tempo ou paciência para elaborados textos da mídia profissional ou comentários televisivos construídos ao sabor de emoções dos analistas.

Serão levados à escolha entre dois homens cujas lideranças podem ser criticadas, mas não podem ser contestadas. Entre dois mundos que se construíram mutuamente. Esquerda, direita, progressistas, conservadores. É o dilema que se instalou a partir desse domingo. Quem merecerá seu voto?

Os algoritmos configurados pelos engenheiros do caos (conceito proposto por Giuliano DaEmpoli) e a Deep Web como meio circulante das (des)informações passaram a atuar como atores principais nas equipes de marketing das campanhas.

Muitas das vezes o emprego dessas ferramentas rompeu princípios éticos e morais. Será necessário encontrar antídotos para o vírus da insensatez que se alastrou nos bits de cada mensagem.

Manuel Castells, em sua obra O Poder da Comunicação (PAZ E TERRA, 2016), já alertava como os processos decisórios de Governos, as campanhas eleitorais e os movimentos sociais foram impactados pelo controle da informação.

O paradigma da informação, caracterizado pelo excesso de dados que prejudica a seleção do que é importante ao receptor, transformou insípidos atores despidos de intelecto, em verdadeiros condottieri das massas encerradas em bolhas cognitivas.

A eleição de ontem foi prova disso. Ela se transformará em um estudo de caso nos próximos anos. Aliás, o processo como ela se configurou se instalou já no pleito de 2018 e, naquele momento, surpreendeu pelo vigor.

Independente do vitorioso, as deficiências dos líderes envolvidos na disputa se transformaram em qualidades, suas incompetências em certeza de suas autenticidades, suas tiradas em arroubos de inteligência.

Cada gafe foi utilizada como combustível de uma nova polêmica, energizando as hostes, fazendo-as esquecer o passado próximo, como se a história pudesse ser reescrita diariamente ao sabor das vontades do Grande Irmão.

Não existiu nada de promissor em escutar os candidatos picarescos desta campanha de 2022. Tampouco eles estavam preocupados em formular conceitos. Mas eles convenceram

Aos atores públicos faltou a compreensão sobre o sentido das manifestações de 2013. A maioria trata a Res Publica como coisa privada. E parece que do ponto vista da eficácia estão certos.

Basta ver o número de deputados e senadores que se elegeram em cima do tal de orçamento secreto. Eles estão a dizer: time que ganha não se mexe.

O povo quer mudança, quer voz ativa, quer esperança, quer solução. Todavia, não se dispõe a tomar como encargo essas ações.

Quando, em 1º de Janeiro de 2023, os eleitos forem empossados em seus tronos do Executivo, que tragam consigo a humildade para dialogar e a determinação para enfrentar a carcomida política que nos consome por dentro.

Ou, quatro anos adiante, veremos espantalhos acéfalos, homens de lata sem coração e leões medrosos ao longo das campanhas, a propor o que não compreendem, que não sentem ou não têm coragem de enfrentar, surfando apenas na onda das vontades digitais. E o povo: que se lixe!

Paz e Bem!