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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O sertão vai virar mar, um mar de esperanças

Vegetação Caatinga - Getty Images/iStockphoto
Vegetação Caatinga Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

11/10/2022 00h00

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Desconcertante a celeuma criada nos últimos dias sobre o voto do Nordeste decidir as próximas eleições. Ao mesmo tempo, hipocritamente oportunista. Antes, quero qualificar-me: sou pernambucano e, portanto, envolvido diretamente na questão.

A região, tão olvidada pelas lideranças políticas nacionais, subiu à ribalta e se tornou ator principal, da noite para o dia, de uma peça melodramática chamada "Brasil, nada diferente".

Elba Ramalho, vigorosa artista paraibana, trouxe luz à canção NORDESTE INDEPENDENTE, autoria de Bráulio Tavares e Ivanildo Vila, em ritmo envolvente, enquanto a letra desvela uma sensação de esperança inalcançável.

"Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente".

"Dividido a partir de Salvador [...] Jangadeiro seria senador [...] Cantador de viola o presidente".

"Em Recife o distrito industrial [...] A bandeira de renda cearense [...] Asa Branca era o hino nacional".

Era um desabafo contra o sentimento de afronta que subsistia em parte do Brasil aos feitos e às pessoas ligadas à região.

Nove Estados da Federação, população de 53 milhões de habitantes (1/4 da população brasileira), quase 40 milhões de eleitores (1/4 dos eleitores brasileiros), dimensão física de 1,5 milhões de Km2 (1/6 do território brasileiro).

Esse é o tesouro à flor da terra que piratas do poder buscam a cada quatro anos.

Uma região que nos ofereceu Rui Barbosa, Chico Science, Raquel de Queiroz, Ariano Suassuna, Anísio Teixeira, Frei Caneca, José de Alencar, Manuel Bandeira, Irmã Dulce, Dom Helder, Deodoro da Fonseca, Gilberto Freire, João Cabral de Melo Neto, Nísia Floresta, Nelson Rodrigues, Tobias Barreto, Castelo Branco dentre tantos outros não é massa de manobra a políticos de interesses rasteiros.

Como brasileiro, antes que nordestino, abomino essa tentativa explícita da atual ronda eleitoral de nos dividir para vencer.

Eleição não é sim e não, não é presta não presta, não é mal contra bem. Eleição é escolha consciente. Deixe-nos escolher.

Apontar o dedo para o céu, em pleno sertão castigado pela seca, não traz soluções aos desafios da região parteira do nosso país. Todos sabemos, a oração sem fé desses forasteiros não tem força.

Comer buchada de bode e ficar empanzinado pela delicadeza do sistema digestivo, usando chapéu e gibão de couro como se fossem fantasias não lhes dá direito de nos engabelar.

O sertanejo, que é antes de tudo, um forte, já se ajoelha todos os dias para que Deus lhe traga chuva.

Esses cabras da peste oram também a Padim Padre Cícero e a Nossa Senhora dos Alagados por um governo central que os olhe com seriedade e apresente soluções alcançáveis aos desafios.

As gabolices desses xexeiros são claramente percebidas nas falas de última hora.

A postura do povo nordestino é de confiar na palavra dada, mas estão atentos a promessas falsas e acreditam apenas quando o dito vira concreto.

Enquanto brasileiros, quanto devemos a esses brasileiros?

Em 1648, defenderam o país ainda púbere contra os poderosos holandeses, como voluntários da pátria lutaram na Guerra de Tríplice Aliança pela preservação do império, em 1900 foram explorar os seringais na Amazônia, em 1945 defenderam democracia na bota italiana, em 1960 elevaram as colunas suspensas de Niemeyer como parte da construção de Brasília.

Hoje, os nordestinos são trabalhadores reconhecidos de diversas áreas e de todos os níveis nas distintas regiões do país e no mundo.

Estão sempre com o sorriso característico nos lábios, resiliência diante dos obstáculos e prezam a força da verdade em suas palavras.

Portanto senhores candidatos a incumbentes, deixem de gaiatice e parem de fazer bunda-canastra em suas declarações pretéritas.

Parem de mangar com coisa séria. Vocês gazearam todas as aulas sobre este pedaço de chão e agora vêm pedir penico pelo voto.

Parafraseando a cantora Elba Ramalho, no encerramento de um show: "políticos brasileiros, não pensem que vocês nos enganam, porque o nosso povo não é besta!"

O sertão há de virar mar, um mar de esperança. O desabafo da Elba é luz de primeira grandeza para buscarmos união contra os que dividem.

Paz e bem!