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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Treinamento difícil, combate fácil!

Carro da PF danificado após tiros disparados por Roberto Jefferson - Reprodução/Redes sociais
Carro da PF danificado após tiros disparados por Roberto Jefferson Imagem: Reprodução/Redes sociais

Colunista do UOL

25/10/2022 01h00

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Nas operações militares com emprego de Forças Armadas e nas ações de segurança pública que envolvam a atuação de policiais civis e militares o aforismo trazido no título do artigo é repetido diversas vezes.

O intuito é levar os agentes a atuarem quase que por instinto durante a ação no campo de batalha ou no dia a dia das ações policiais nas cidades.

Quando esses homens e mulheres integrantes de corporações de Estado ligadas à defesa e à segurança da população são colocados à prova diante de forças antagônicas, a serenidade deve ser o principal atributo para a tomada de decisão.

Trago essas considerações em face das repercussões sobre o ataque despropositado que uma equipe da Polícia Federal sofreu nesse final de semana, quando no cumprimento de seu dever constitucional e funcional.

Comandei tropas em operações de paz no Haiti e nos Complexos do Alemão e da Penha. Vi escaramuças importantes entre a legalidade e o crime. Vi militares atingidos durante as operações. Exigi, como comandante, atenção especial com a população da região para que não fosse transformada em bode expiatório do conflito.

Quando o primeiro tiro é disparado, a boca fica seca, a adrenalina toma conta de seu corpo, a visão ganha amplitude e o impulso natural é reagir por instinto de sobrevivência.

Porquanto, em órgãos de elevado status profissional, como reconheço e prestigio na Polícia Federal, as regras de engajamento precisam estar incorporadas no "sangue" de cada integrante como forma de se evitar descontrole no ambiente de confronto.

O objetivo maior é promover segurança à população e até à força antagônica contra excessos ou efeitos colaterais da operação.

Diante das experiências vividas como oficial do Exército, reafirmo minhas homenagens aos Policiais Federais que, cumprindo uma determinação judicial foram atacados por rajadas de submetralhadora e granadas de mão, enquanto agiam civilizadamente, segundo as regras de engajamento, para dar fim a um contencioso legal.

As imagens que nos chegaram por meio da imprensa valorizam ainda mais a corporação. Carro perfurado em vários lugares e agentes feridos por estilhaços chocam pela irracionalidade nelas contidas.

A despeito da brutalidade desencadeada pelo alvo da operação, aqueles homens e mulheres evitaram um confronto que certamente fugiria ao controle e, mesmo feridos, comportaram-se dignamente para dominar a situação.

Suponho que tenham avaliado as repercussões de um engajamento no qual o criminoso, com relações de poder vigorosas, fosse atingido ou mesmo eliminado, já que a decisão judicial estava acompanhada de um odor político irrefutável.

Quando os níveis políticos, estratégicos e operacionais deixam de se relacionar com o devido respeito às estruturas de poder legalmente constituídas, confundindo-se a ponto de mesclar quem atua, com quem decide e com quem planeja, as chances de terceiros sofrerem por essa inabilidade ganha dimensões reais.

Forças Armadas, Polícia Federal, Auditoria Federal e Relações Exteriores são alguns exemplos de instituições e servidores que protegem a Nação exatamente por não se envolverem em incertezas de governo, em especial em momentos de disputas eleitorais.

Trazê-las à ribalta como ator, desrespeitando seus distintivos, valores e tradições, para fortalecimento de avatares que se digladiam nas disputas políticas, são atitudes incompatíveis com a história que essas instituições carregam em seus alforjes.

O país não precisa disso. Há desafios imensos a serem enfrentados. Nossa força moral deve ser reunida na ação principal que é ofertar segurança e bem-estar sociais a cada cidadão brasileiro.

Paz e bem!