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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sociedade espera festa de cores cívicas no bicentenário da independência

Forças armadas no desfile cívico-militar de 07 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil - Forças armadas no desfile cívico-militar de 07 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil
Forças armadas no desfile cívico-militar de 07 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil Imagem: Forças armadas no desfile cívico-militar de 07 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil

Colunista do UOL

06/09/2022 00h00

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Amanhã (7 de Setembro de 2022) o Brasil completará 200 anos da lavratura de sua certidão de nascimento como nação livre das amarras da metrópole portuguesa.

Os movimentos pela independência tiveram origem no século 18 e foram tomando forma a partir de um ambiente de frustração pela usurpação material e moral promovida pela coroa portuguesa em nosso país.

A ligação entre a sociedade e o ideal de liberdade se amalgamou com a Inconfidência Mineira, cujo ícone, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado de Tiradentes, se transformou em símbolo da resistência aos grilhões lusitanos.

A vinda da Família Real para o Rio de Janeiro em 1808 fortaleceu a Colônia, alçando-a a Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves.

Com a derrota e retirada napoleônica de Portugal, a metrópole exigiu o retorno de Dom João VI a Lisboa e, pouco a pouco, começou a questionar as liberdades promovidas na colônia.

O Dia do Fico, no qual Dom Pedro, então príncipe regente, decide manter-se aqui no Brasil, foi o avant première do agravamento de relacionamento entre vassalo e soberano.

A Princesa Leopoldina, esposa do regente, ao lado do patriarca da independência, José Bonifácio, redigiu a carta estopim do grito do Ipiranga. A missiva informava sobre as decisões autoritárias recentemente chegadas de Portugal.

Às margens do pequeno riacho Ipiranga, o príncipe regente, prostrado por um desarranjo intestinal, recebeu das mãos de Paulo Bregaro, mensageiro oficial enviado por Bonifácio, a epístola incisiva da esposa Leopoldina.

Em um desabafo já acordado antes da partida, segundo as pesquisas históricas, bradou o "Independência ou Morte".

Nascia a jovem nação, um império gigantesco, tateando sem compreender as circunstâncias do episódio e cercada de incertezas.

A infância e adolescência do novo país, vividas ao longo do período imperial, foi recheada de idas e vindas, mas exitosa para a consolidação da nação.

A entrada na idade adulta, com a Proclamação da República, carregou as dificuldades do período monárquico ainda por muitos anos no novo regime.

Desde então, o país tenta escalar a montanha do desenvolvimento e do bem-estar social, empurrando a pesada pedra de seu passado político, econômico e psicossocial, tal qual Sísifo.

Em vários momentos de nossa história, quando o cimo da montanha já se mostrava ao alcance da sociedade, deixamos a pedra rolar morro abaixo, nos obrigando à extenuante nova escalada.

Neste bicentenário da independência estamos às voltas com mais uma tentativa de subirmos a montanha.

O Sete de Setembro pode significar o marco inicial de unidade entre a Nação, o Estado e o Governo na cordada que nos fará alcançar definitivamente o objetivo de tornar-se um país avançado em todos os campos do poder.

Oxalá as raivosas pendengas eleitorais se mantenham apenas no campo dos gritos de guerra, na elevação de faixas e no balançar de bandeiras.

As provocações pretéritas, todavia, deixam uma ansiosa percepção de que uma pequena faísca, riscada próxima do rastilho de insensatez, que vem sendo construído nos últimos anos, poderá gerar emoções que ultrapassem a razão.

Quando isso acontece, historicamente, emerge-se o choque insano e fratricida.

Reli há poucos dias a obra de Antonio Scurati, O HOMEM DA PROVIDÊNCIA, uma biografia romanceada sobre o Duce.

A marcha sobre Roma foi o momento marcante para a liberação de energia que redundou no sistema político que dominou a Itália por quase um quarto de século.

Desejo que os movimentos previstos para amanhã não se assemelhem àquela demonstração de outubro de 1922 na península italiana.

Confio que a nossa índole pacífica ainda seja prevalente na maior parte de nossa população.

Confio no profissionalismo dos órgãos de segurança pública para provimento da sensação de segurança, única forma de controlar multidões em êxtase.

Confio na inegável compreensão pelas Forças Armadas, atentas às vivandeiras de quarteis, de seu papel adstrito aos ditames constitucionais, como instrumento do Estado em servidão ao povo brasileiro.

O esforço despendido nesses 200 anos pela integridade territorial da Terra de Santa Cruz, pela luta para fortalecimento das liberdades sem adjetivo, pela manutenção dos valores e tradições de nosso povo não pode ser perdido em um único dia de conturbação juvenil.

Paz e bem!