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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O Brasil não vai parar diante da incompreensão de vencidos

02.out.2022 - Eleitora vota no 1º turno das eleições gerais - TON MOLINA/ESTADÃO CONTEÚDO
02.out.2022 - Eleitora vota no 1º turno das eleições gerais Imagem: TON MOLINA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

01/11/2022 01h00Atualizada em 01/11/2022 12h43

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No final do século passado, o mundo se preparava alarmado para a virada do milênio e suas consequências sobre os sistemas digitais e gerenciamento de bancos de dados.

O temor se justificava.

Havia a possibilidade de que diversas estruturas entrassem em pane, derrubassem aviões em rota, desaparecessem com o dinheiro das contas bancárias, desligassem usinas geradoras de energia, ativassem sistema de armas nucleares à revelia do controle dos militares etc.

Uma preparação minuciosa das instituições de governo e organizações civis, antecipando-se para diminuir as chances de fatos inesperados ocorrerem, resultou em uma passagem sem intercorrências para o novo ano que nascia em 1 de janeiro de 2000.

Chegamos a 2022, um mundo completamente diferente daquele início de era.

Todavia, a evolução acelerada das demandas sociais, nos faz enfrentar novos bugs do milênio em múltiplos campos do poder.

O Brasil acabou de espocar os fogos de artifícios em comemoração por mais uma eleição decidida dentro dos princípios da democracia, elegendo presidente, governadores, senadores, deputados.

Os meses que antecederam essas disputas foram preenchidos por notícias de credibilidade e periculosidade variadas, dando conta de que teríamos uma escalada de violência política, que um armagedon cultural se aproximava para destruir o país e, portanto, era preciso ficar atento e "dar a vida" no enfrentamento do pior dos mundos.

Os alertas foram disseminados pelos meios de comunicação, por formadores de opinião, por acadêmicos e pelo cidadão comum, a ponto de instigarem vigorosamente os Poderes da República a tomarem (como ao final da década de 1990) medidas contemporizadoras que levassem o país à manha de domingo passado com a devida segurança social e institucional.

Não ocorreram enfrentamentos, cada eleitor dirigiu-se à urna eletrônica (tão contestada, mas eficiente na proteção e computação de cada escolha) e digitou seu voto de forma segura e secreta.

Vencedores devem pregar a união e vencidos reconhecer a derrota. A liturgia política exige essa postura dos contendores. Desse modo, um país se fortalece e avança na tessitura do tecido social harmônico.

O resultado revela um país de pensamentos conflitantes, mas nem por isso impossível de fazer caminhar opostos lado a lado.

Esse país vai precisar se renovar. Vai precisar retomar o diálogo multilateral. Vai precisar fortalecer a defesa do meio ambiente. Vai precisar integrar as regiões e combater a xenofobia que se instalou.

Deverá encurtar a distância entre ricos e pobres. Equilibrar as decisões políticas entre o poder e o dever. Recolher alijados do convívio social e integrá-los novamente ao dia a dia da população.

Refutará discursos que mantenham o maniqueísmo pretérito. Não permitirá a manutenção de uma luta eleitoral que já se findou. Abominará teorias da conspiração criadas para dar corpo à vontade de grupos alienados.

A ressaca cidadã de domingo à noite já se vai amainando.

Todavia, sempre haverá recalcitrantes. Enquanto escrevo, grupos de caminhoneiros fecham estradas em contestação ao justo resultado das eleições.

Mas esses serão serenados pela faina do dia a dia ou pelos instrumentos legais disponíveis e à mão do Estado. O caminho aponta para o futuro e devemos continuar caminhando determinados.

O toque de carga a ser ordenado pelas novas lideranças deverá colimar paz e justiça socias.

Deve reunir cidadãos, homens e mulheres, da Amazônia, do Cerrado, do Sertão, do Pantanal, da Caatinga, da Mata Atlântica, do Pampa e tantas outras regiões, com suas experiências e capacidades, para elevarem a bandeira do Brasil, símbolo maior de nossa terra, ao ponto mais respeitado entre nações.

Essa mescla de terra, povo, cultura e governo mostra-se apta a desfrutar interna e externamente de respeito compatível com suas tradições e valores seculares.

Não é discurso vazio, é imperativo de sobrevivência.

Paz e bem!