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Plínio Fraga

Se revelado antes da eleição, caso Queiroz teria mudado o resultado?

O ex-assessor parlamentar e policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz em foto ao lado de Jair Bolsonaro, publicada em rede social em 21 de janeiro de 2013. - Reprodução/Instagram
O ex-assessor parlamentar e policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz em foto ao lado de Jair Bolsonaro, publicada em rede social em 21 de janeiro de 2013. Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

18/12/2019 12h02

A operação de busca e apreensão realizada nesta quarta-feira pelo Ministério Público do Rio de Janeiro reacende o caso Queiroz. Há mistérios e desinformações de toda ordem nesse rolo, como definiu o presidente Jair Bolsonaro. Um dos mistérios a saber é se um emissário do governo Temer antecipou ao clã Bolsonaro o rolo que estava por vir.

Em 16 de outubro de 2018, o então candidato do PSL, Jair Bolsonaro, tinha mais de 20 pontos de vantagem sobre Fernando Haddad (PT), de acordo com as pesquisas de opinião. Faltavam apenas 12 dias para o segundo turno da eleição, que seria vencido por Bolsonaro com 55% dos votos contra 45% do oponente petista. Fazia 41 dias que o então candidato do PSL sofrera uma facada em Juiz de Fora.

Foi nessa data que Fabrício José Carlos de Queiroz, então vinculado ao gabinete parlamentar do deputado estadual Flávio Bolsonaro _ o filho 01 _ com cargo em comissão de Assessor Parlamentar III, pediu desligamento da função. No dia a dia, fazia as vezes de motorista, segurança e intermediador entre o deputado e outros funcionários da gabinete. Era o popular "faz-tudo". Privava intimidade do clã Bolsonaro por 34 anos, desde que conhecera o capitão na Vila Militar do Rio de Janeiro em 1984.

Naquele 16 de outubro, Queiroz informara que estava se transferindo para a reserva remunerada da Polícia Militar, como subtenente. Trocaria o salário de R$ 23 mil pelo benefício militar de pouco mais de R$ 8 mil.

Por que resolvera afastar-se do filho do amigo que seria eleito presidente dali a alguns dias e para ganhar menos?

Desde maio de 2018, Queiroz estava sendo investigado por movimentação de dinheiro incompatível com a renda legalmente obtida.

Só em 6 de dezembro de 2018 _ 39 dias após a eleição presidencial _ revelou-se que Queiroz estava no epicentro de uma crise para a primeira-família. É possível que, num gesto de boa política, um emissário de Temer tenha feito soar o alerta.

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, revelara movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz. Em aprofundamento da análise, o Coaf chegaria à conclusão que Queiroz movimentou R$ 7 milhões em três anos. A investigação em andamento tenta comprovar a suspeita da chamada "rachadinha" — a apropriação de parte do salário dos funcionários pela dupla Queiroz/Bolsonaro.

O Coaf mostrou também que tinham saído da conta de Queiroz R$ 24 mil para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, quando Jair ainda era deputado federal, e ela, assessora parlamentar em Brasília. O presidente afirmou que se tratava do pagamento, na conta da sua mulher, de um empréstimo que fizera ao assessor do filho. Antecipou ainda que outras prestações poderiam aparecer. Não apresentou nenhum documento para comprovar o que dissera. Resumiu que sabia que Queiroz fazia "rolo" para ganhar dinheiro.

A questão irrespondível que fica é saber se o rolo Queiroz, caso fosse revelado na reta final da eleição, teria mudado o resultado das urnas. E o papel do emissário de Temer teria então se revelado fundamental.