Determinação para contratar degustador de água é para ser engolida a seco
A agência estadual que deveria fiscalizar e regular o saneamento no Rio de Janeiro recomendou nesta terça-feira que a empresa de águas do Estado contrate um degustador. Parece delírio, mas não é. A agência justifica que os Estados de São Paulo e Paraná já têm servidores em tal função. Seria essencial para atestar a qualidade da água servida. A recomendação da Agenersa é daquelas que fazem o fluminense engolir a crise hídrica a seco.
Desde 6 de janeiro, os moradores da região do Grande Rio estão sendo abastecidos com água com cheiro e gosto fortes e, em alguns locais, cor escura. Uma nota elaborada por professores de diversos departamentos e institutos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) suspeita de que o problema da água na região metropolitana é resultado do lançamento de esgoto sem tratamento em afluentes do rio Guandu, principal abastecedor da região metropolitana.
A Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) diz que a água estaria apta para o consumo, apesar da presença de geosmina, uma substância produzida por algas que teria provocado o gosto e o cheiro de terra na água distribuída à população.
Os professores da UFRJ exemplificam que esgotos sanitários em estado bruto são drenados pelos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de água do sistema produtor da Cedae.
O relatório alerta que há uma evidente degradação ambiental nos mananciais utilizados para abastecimento público da região metropolitana do Rio, o que compromete a qualidade da água, dificulta o tratamento e pode colocar em risco a saúde pública. E a principal orientação do órgão fiscalizador até agora foi a contratação de um degustador.
A crise da água no Rio é só um pequeno alerta. A ONU prevê que, em 15 anos, a crise de água piorará em todo o mundo. Projeta que haverá 40% menos água do que o necessário para o consumo. O mundo ampliará as fatias de população vivendo sob "estresse de água", na expressão da ONU. Estudiosos preveem que em breve a água será causa principal de conflitos entre nações. Como escreveu a poeta americana Emily Dickinson (1830-1896), "a água se ensina pela sede"
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