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Plínio Fraga

Bolsonaro faz assédio moral a jornalistas, passível de processo e punição

O presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas - Marcos Corrêa/Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas Imagem: Marcos Corrêa/Presidência da República

Colunista do UOL

17/01/2020 00h01

A reação infantil e grosseira do presidente da República a uma reportagem tecnicamente perfeita revela o grau de despreparo, de destempero e de falta de decoro do atual mandatário. Jair Bolsonaro tem sido repetidas vezes grosseiro e ofensivo aos repórteres que cobrem o Palácio do Planalto, mas, em vez de atingi-los de fato, mancha a instituição à qual deveria preservar.

O presidente boquirroto faz o país sentir saudades de Sarney, Collor e Dilma. Esses ex-presidentes, que foram dos mais rejeitados, mantiveram, cada um a seu modo, o mínimo de temperança que o cargo exige. Bolsonaro, o rude, comporta-se como soldado raso.

"Tá falando da sua mãe?", esbravejou o presidente ao ser legitimamente questionado sobre reportagem da Folha de S.Paulo que informava que o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, é sócio de empresa que mantém contratos com emissoras de televisão e agências de publicidade que atendem o governo. É tarefa da Secom direcionar os recursos de propaganda do Palácio do Planalto.

O presidente da República, homofóbico por natureza, atacou um jornalista, dizendo suspeitar de que fosse homossexual. Agora faz referência à mãe de uma jornalista que estava apenas fazendo seu trabalho e ofende uma jornalista brasileira descendente de japoneses com ataque de xenofobia.

Os constantes ataques do presidente a jornalistas são assédio moral, passível de processo e punição _ de indenização a ser paga aos ofendidos ao processo de impeachment.

Assédio moral é crime.

É legítimo que as instituições de classe e os veículos de imprensa discutam formas de conter os ataques presidenciais, recorrendo inclusive à Justiça.

Pode parecer uma posição radical ou corporativista, mas há exemplos pelo mundo a embasá-la.

Nos Estados Unidos um grupo de defensores da imprensa livre resolveu processar Donald Trump por seus ataques constantes a jornalistas e empresas de comunicação. Argumenta exatamente o que está exposto aqui: as frequentes ameaças e atos hostis do presidente Trump, dirigidos a jornalistas e à mídia, não são apenas ofensivos e impróprios para um líder democrático; eles também são ilegais. Na era Trump/Bolsonaro, retóricas desagradáveis, insultos e até ameaças de violência tornaram-se um risco para o exercício profissional de repórteres e comentaristas políticos.

Certamente, boa parte dos ataques verbais do presidente a jornalistas e a mídia pode ser considerada dentro do limite legal do jogo político. O presidente tem direito de liberdade de expressão, assim como todos nós, e considera os meios de comunicação "inimigos do povo". Descarta reportagens precisas como "fake news", em vez de adotar a transparência que o cargo exige para contestá-las com fatos concretos.

O presidente tem direito à opinião, entretanto, não pode usar os poderes de seu cargo para cercear e atacar o livre exercício profissional dos jornalistas.

Os presidentes são livres para criticar, zombar e até iludir a imprensa, mas não podem usar o poder do governo para sufocá-la, ameaçando, por exemplo, boicotar anunciantes de órgãos de imprensa com os quais o mandatário não concorda.