Raquel Landim

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Opinião

Temor de derrota faz Maduro adotar campanha do medo e põe Brasil em xeque

Experientes diplomatas brasileiros recomendam enxergar além da estridência das declarações de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e avaliar as entrelinhas.

Neste mês, o ditador disse que vai ter um "banho de sangue" em seu país se ele perder as eleições.

"O destino da Venezuela depende da nossa vitória. Se quisermos evitar um banho de sangue ou uma guerra civil desencadeada pelos fascistas, então devemos garantir a maior vitória eleitoral de sempre", disse Maduro num comício ne semana passada.

O histórico de violação dos direitos humanos de Maduro é tão explícito que declarações assim evidentemente causam preocupação, mas fato é que o ditador está utilizando uma tática velha de disputas eleitorais: a campanha do medo.

E esse tipo de estratégia só costuma ser adotada por quem está perdendo.

As pesquisas eleitorais na Venezuela não são confiáveis, por isso não existe um termômetro seguro. Alguns institutos dão vitória certa do candidato da oposição Edmundo González. Outros, ligados ao governo, falam na vitória de Maduro.

A questão é que os sinais emitidos pelo próprio regime são de que as coisas não vão bem. Além de impedir que a líder oposicionista Maria Corina Machado (e também sua homônima) concorresse, Maduro está dificultando a inscrição dos venezuelanos que vivem no exterior e que votam majoritariamente contra ele.

E, se perder, Maduro seria capaz de promover um "banho de sangue" em seu país para se manter no poder? Alguns analistas acreditam que sim, já que a situação na Venezuela é tão tensa que dificulta qualquer acordo para a anistia se a oposição vencer. O caminho para os chavistas seria a cadeia.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (22) que ficou "assustado" com as declarações de Maduro e que eleições "não são banho de sangue", mas "banho de voto".

O Brasil apoiou Maduro e as eleições na Venezuela como forma de reinserir o país na região. Recentemente, Lula chegou a falar na volta do país para o Mercosul, bloco que exige que todos os seus membros sejam democracias.

A perspectiva do ditador perder e até mesmo promover um "banho de sangue" deixa o Brasil numa posição muito difícil.

Se Maduro perder e ainda assim declarar vitória, o governo brasileiro vai reconhecer uma eleição fraudulenta, ficando praticamente isolado? Ou vai endossar um presidente oposicionista e desagradar a base política do PT no Brasil?

E se o povo venezuelano reagir à fraude e o ditador cumprir a ameaça? O que fará o Brasil?

Neste caso, Lula já deu mostras a Maduro, quando ele ameaçou invadir a Guiana, que até mesmo sua paciência tem limites.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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