Raquel Landim

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Opinião

Derrota mais dolorida de Bolsonaro foi em Goiânia, e vão reclamar de Moraes

Com exceção de Cuiabá (MT), candidatos apoiados por Jair Bolsonaro (PL) foram derrotados em todo o país, transformando o ex-presidente no maior perdedor do segundo turno.

Bolsonaro saiu derrotado das urnas em Fortaleza, Manaus, Goiânia, Palmas, Belém, João Pessoa e Belo Horizonte.

As derrotas mais doloridas certamente foram em Goiânia e em Fortaleza.

Em Goiânia, os bolsonaristas vão alegar a interferência do ministro Alexandre de Moraes por causa da Operação da Polícia Federal contra o deputado Gustavo Gayer (PL). Na capital cearense, o deputado André Fernandes (PL) quase tirou a hegemonia da esquerda após se aliar com Ciro Gomes (PDT).

Bolsonaro considerava a vitória uma "questão de honra" em Fortaleza, Manaus e Goiânia, mas perdeu em todas. Ele chegou a ir à capital de Goiás acompanhar a votação de Fred Rodrigues (PL) e desconversou dizendo que era o local "mais próximo" e que "a esposa permitiu".

O ex-presidente aproveitou evidentemente para criticar a decisão de Moraes, que autorizou a Operação da PF, e que ele agora vai tentar utilizar como bode expiatório. Não vai colar, dado o tamanho do desastre político.

A derrota de Bolsonaro é também do PL, que concorria em 9 capitais nessa segunda etapa, mas só levou duas. Além de Cuiabá, venceu em Aracaju —só que Emília Correa saiu vitoriosa na capital sergipana sem mostrar a imagem de Bolsonaro. Abilio Brunini, em Cuiabá, apoiador do ex-presidente desde antes de 2018, foi o único a assumir abertamente sua ligação com ele.

Bolsonaro saiu perdendo até mesmo onde não precisava ter se metido ou onde deveria ter entrado e não entrou.

O primeiro caso é Curitiba, no Paraná. O PL indicou o vice de Eduardo Pimentel (PSD), mas o ex-presidente deixou que Cristina Graeml (PMB) utilizasse sua imagem e seu discurso de valores conservadores.

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Já o segundo exemplo é São Paulo. O vice de Ricardo Nunes (MDB) coronel Mello Araújo, também é do PL, mas Bolsonaro esperou até o último minuto para mergulhar na campanha do emedebista, que depois até esnobou sua presença no horário eleitoral gratuito de TV.

Aliados do próprio ex-presidente afirmam que Bolsonaro "errou feio" na escolha dos candidatos, porque boa parte dessas derrotas foram para postulantes da centro-direita. É o caso, por exemplo, de João Pessoa, onde Marcelo Queiroga (PL) perdeu para Cícero Lucena, do PP de Ciro Nogueira e de Arthur Lira.

Ao invés de se aliar com o centro conservador, o ex-presidente investiu naquilo que ele realmente é: a extrema direita. E o eleitorado brasileiro optou, pelo menos nessas eleições municipais, por candidatos do Centrão, já que a esquerda também teve poucas vitórias.

Pesaram a favor do Centrão motivos nada republicanos como a concentração de recursos do fundão eleitoral na mão dos caciques e as verbas do chamado "orçamento secreto", que mudou de tipo de emenda, mas não cessou. Mas se o eleitor não optou em sua maioria pela esquerda, apesar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar no poder, também não se aventurou com radicais de direita.

Bolsonaro está inelegível, responde a inquéritos diversos no Supremo Tribunal Federal (STF), correndo o risco de ser preso, e agora teve sua força de cabo eleitoral colocada em dúvida. Eleições municipais não funcionam como antecipação de presidenciais, mas os políticos observam como indicativos de quem tem mais poder em Brasília.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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