Mantega sugere mudança na meta de inflação e irrita a equipe econômica
A sugestão do ex-ministro Guido Mantega, em entrevista ao UOL, de alterar a meta de inflação foi ignorada pelo mercado financeiro, mas irritou a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
As reações em Brasília às declarações o ex-ministro —e a possibilidade de mudança no alvo a ser perseguido pelo Banco Central e na política de juros— variaram de "nem li" a "zero" ou "de jeito nenhum".
Mantega, no entanto, enviou um recado diretamente ao novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
"Galípolo é um bom técnico. É um rapaz muito inteligente, de pouca idade, mas espertíssimo. E eu acho que o tempo como secretário executivo da Fazenda foi importante também porque o presidente do Banco Central tem que ser um bom macroeconomista", afirmou ao repórter Felipe Mendes.
E completou:
"Ele (Galípolo) tem que entender bem como funciona a economia e não só ficar circunscrito às questões monetárias. Galípolo precisa olhar os dados, olhar os números, mas sair dessa prisão da meta de inflação de 3%, que é inviável", completou.
Galípolo assume a presidência do Banco Central em janeiro e, diferentemente de Roberto Campos Neto, foi escolhido para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A fala de Mantega não "fez preço" no mercado porque ele não tem mais a caneta na mão. Ou, como disse um técnico do governo à coluna, não tem assento no CMN (Conselho Monetário Nacional) há bastante tempo.
É o CMN o responsável por decidir a meta de inflação, e fazem parte do colegiado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e, muito em breve, o novo presidente do BC.
No entanto, se o ex-ministro, que é considerado um dos piores da história do país por economistas e empresários por causa do rombo nas contas públicas e da recessão que provocou, é assim tão inexpressivo, por que o desconforto?
Porque Mantega é ouvido por Lula.
Recentemente, quando o presidente disparou a metralhadora de críticas contra Campos Neto, e provocou mais um forte aumento do dólar, Mantega foi um dos convidados para um jantar organizado por Haddad na sua casa, do qual também participaram o presidente Lula e Galípolo.
Nesse jantar, coube a Mantega e a outros economistas heterodoxos da confiança do presidente, como Luiz Gonzaga Beluzzo, convencer Lula a parar. Ou pelo menos a dar uma trégua.
Na visão do ex-ministro, a meta de inflação está "errada", e o Brasil não consegue ter 3% de aumento de preços a não ser que "tiver estagnação ou que despencassem os preços das commodities".
Por causa desse "erro" no alvo, o Banco Central estaria subindo os juros mais do que o necessário.
Muitos economistas defendem o contrário. Dizem que o governo gasta mais do que deveria e tem uma dívida alta, o que impulsiona a inflação e leva o BC a aumentar os juros.
Para Mantega, esse problema não existe. É só ajustar corretamente o termômetro.
Vira e mexe essa discussão retorna ao governo Lula. E, toda vez que ela vem, o trabalho da equipe econômica fica mais difícil, porque as expectativas desancoram e a inflação sobe ainda mais.
Quando o ciclo fecha, dá para entender por que quem tem a caneta na mão fica irritado com tanto palpite. Resta saber a opinião de Lula.
93 comentários
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Armando Vasconcelos Salem
Guido Mantega, um dos italianos das propinas da Odebrecht, e o maior responsável pela tragédia econômica legada pelos desgovernos Dilma; como diria o rei da Espanha: "ïtalianinho 2, por que não te calas".
Jorge Henriques Fernandes
Landim, responde para nós como andam os 138 processos que Mantega responde na Justiça !! Principalmente aquele que envolve o desvio de R$ 8 bilhões em conjunto com Dilma Rousseff !! O que esse Mantega fala sobre Economia, não se aplica, até calouro de Faculdade de Economia sabe mais que ele ! Deus nos livre !!
George Henrique de Moura Cunha
São gestores econômicos como Guido Mantega que ajudam a prejudicar a economia brasileira. São lenientes com a inflação e evitam ajustes impopulares. A inflação afeta justamente os mais pobres, que não conseguem defender seu poder de compra. São os mais pobres que pagam o "imposto inflacionário". A divida pública é alta em função dos últimos governos gastarem mais do que arrecadam. Não adianta mudar o arcabouço fiscal e depois não cumprir o que foi prometido, que a confiança do mercado na capacidade deste governo em conduzir a economia, já foi para o "beleleu". Novas promessas, para que não cumpriu prometidas, sempre encontram um novo incauto para acredita-las. Depois não adianta reclamar dos juros altos, da divida publica elevada, do baixo crescimento econômico. Contudo, haverão aqueles que pedirão juros mais baixos, controle de preços, e atribuir algum segmento econômico ou grupos empresariais como novo inimigo interno facista!