Sem pacote, 'paulada' do BC no juro pode ser insuficiente para baixar dólar
O Banco Central se antecipou e deu uma "paulada" nos juros. Não só subiu a taxa Selic em 1 ponto percentual, como sinalizou mais duas altas de igual proporção em 2025.
O mercado vive de expectativa e 3 pontos a mais de juro é bastante. Eleva ainda mais o diferencial entre o que paga o título da dívida brasileira e o que os investidores recebem pelos papéis do Tesouro americano.
Teoricamente atrairia capitais para cá e aliviaria a alta do câmbio, mantendo o dólar abaixo de R$ 6. Atenção para esse patamar: seis reais
O movimento do BC foi estrategicamente e politicamente perfeito. Antecipou-se ao mercado e aliviou a pressão sobre Gabriel Galípolo, que assume a presidência do banco em janeiro. O recado já está dado para uma ala do governo e do PT: vem mais duas altas no ano que vem.
Uma atitude assim era que o que se cobrava do governo federal que, ao contrário, fez um anúncio de ajuste fiscal misturando corte de gastos com benesses tributárias.
Finalmente o dólar balançou. E para aqueles que cobravam intervenção: ontem o BC fez ainda dois leilões de moeda para conter um fluxo atípico.
Só que o dólar já está de novo acima de R$ 6. A movimentação das sexta-feiras é baixa, então é preciso ficar atento aos próximos dias. Prever dólar é cemitério de economistas.
Porém, há vários problemas não resolvidos. A moeda americana está forte no exterior por incertezas variadas e o cenário no Brasil é negativo.
O Congresso chantageia o Executivo por emendas e coloca em dúvida a aprovação de um pacote fiscal que já é tímido.
Vale lembrar que, quando o BC sobe o juro, a dívida brasileira fica ainda mais pesada porque é boa parte indexada em Selic.
Resumindo: o Banco Central fez seu dever de casa muito bem feito, mas política monetária sozinha não resolve o problema do câmbio. E, quando o fiscal está muito desajustado, não tem juro que desacelere a economia e reduza a inflação.
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