Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Análise: Polarização em eleição peruana é alerta para o Brasil em 2022
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As eleições peruanas estão no centro da discussão política na América Latina. O segundo turno improvável entre a candidata de direita Keiko Fujimori e o de esquerda, Pedro Castillo, é acompanhado voto a voto diante de pequena diferença entre eles e a impressionante virada de Castillo.
Enquanto o resultado oficial não é conhecido, a mídia latino-americana se divide ao descrever ambos candidatos. Reduzem Castillo ao "comunista" que quer expulsar os imigrantes e resumem Keiko à conservadora herdeira do legado político do pai, o ex-presidente e agora preso Alberto Fujimori.
Para uma conversa mais aprofundada sobre as eleições peruanas e em que a observação deste momento pode ser útil ao Brasil, eu conversei com Camila Daniel, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em estudos migratórios peruanos, e que em três ocasiões foi observadora internacional, em Washington, das eleições no Peru.
Neste segundo semestre deste ano, Camila será professora visitante no Ilas (Instituto de Estudos Latino-americanos) da Universidade de Columbia, em Nova York.
Na entrevista transmitida pelo Canal UOL (assista acima), Camila apontou que a eleição peruana não pode ser desconectada da história e como "relações de poder extremamente coloniais têm sido historicamente reproduzidas".
Este segundo turno também traduz uma disputa entre a força de trabalho da zona rural e a centralização de poder em Lima —o Peru não é uma república federativa como o Brasil, mas "um país com poder político concentrado em Lima".
Essa concentração aciona outros poderes, como o econômico e o status. São "outras relações de privilégio que alimentam uma hierarquia", diz a pesquisadora.
Para Camila, "o momento tão calamitoso da realidade brasileira, está despertando a nossa sensibilidade para olhar com mais calma o que está acontecendo nos nossos países vizinhos, para além de Argentina, Chile e Uruguai".
Ela também fala sobre o cuidado necessário para olhar para a experiência peruana com o comunismo e generalizar uma retórica de "perigo comunista", como muitos do campo conservador costumam fazer no Brasil, mesmo que a experiência brasileira não encontre paralelos com a peruana, e, em um certo período da história, foi fundamental para os movimentos populares como os movimentos de educação e o fim dos grandes latifúndios.
A polarização e as articulações que vão se construindo no Brasil em direção a 2022 tornam o cenário e a experiência peruana extremamente útil para discutir qual o papel da história e da memória nessa disputa.
Além disso, como esquerda e centro-esquerda construirão alternativas para superar os novos atores do ultraconservadorismo no Brasil (de políticos a lideranças religiosas).
O tom da conversa com Camila Daniel foi de profundidade e visão panorâmica da complexidade que envolve as eleições em contextos como o peruano e, provavelmente, o brasileiro.
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