Para governistas, Bolsonaro veta reajuste de servidor, mas aceita derrubada
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Há várias versões sobre a autoria da famosa frase "fiz que fui, mas não fui, acabei fondo". Teria sido cunhada pelos ex-jogadores Nunes, do Flamengo, Ditinho Chumbão, do XV de Piracicaba, Claudiomiro, do Internacional, ou mesmo Dario, o famoso Dadá Maravilha.
Tanto faz. O fato é que o bordão bem poderia ser adotado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Fingir que agirá de um forma, depois acenar com outra possibilidade e acabar driblando todo mundo tem sido a principal tática do presidente para lidar com temas problemáticos da política.
Bolsonaro diz que vai fazer, finge que faz, depois não faz ou acaba fazendo, de acordo com o que achar melhor. E põe a culpa das versões contrárias a seus opositores e na mídia. Pronto.
Foi o que fez neste final de semana no caso do churrasco que ofereceria a amigos, aliados e subordinados no Palácio da Alvorada. Com direito a uma partidinha de futebol.
Acabou não fazendo nada disso, foi andar de jet sky e ainda acusou a imprensa de ter inventado a história.
E é essa tática que seus aliados no Congresso estão apostando que Bolsonaro repetirá:
O presidente fingirá que adota a recomendação do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vetando a possibilidade de reajuste de salários de servidores incluídos no projeto de ajuda financeira da União a estados e municípios por conta da crise do coronavírus.
Bolsonaro, inclusive, já anunciou que o veto sai nesta segunda-feira.
O projeto inicial da equipe econômica previa uma poupança de R$ 93 bilhões obtida com o congelamento dos salários dos servidores municipais, estaduais e federais como contrapartida à ajuda aos estados.
Mas o Congresso aprovou o texto abrindo exceção para diversas categorias:
- funcionários públicos da área da saúde;
- funcionários públicos da área de segurança;
- militares das Forças Armadas;
- servidores da Polícia Federal (PF);
- servidores da Polícia Rodoviária Federal (PRF);
- guardas municipais;
- trabalhadores da educação pública como os professores;
- agentes socioeducativos;
- profissionais de limpeza urbana e de serviços funerários;
- profissionais de assistência social;
- servidores das carreiras periciais, como os peritos criminais.
Com isso, a poupança caiu para R$ 43 bilhões. E Paulo Guedes logo pediu a Bolsonaro que vete todos esses reajustes.
O presidente declarou publicamente que seguirá a determinação de seu Posto Ipiranga da Economia.
Mas o reajuste foi aprovado no Congresso com o voto em massa de sua base de apoio no Parlamento. O próprio líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), declarou na tribuna apoio à decisão dos parlamentares, com o aval explícito do Palácio do Planalto.
Por conta disso, os articuladores políticos do presidente no Congresso dão como certo que Bolsonaro aceitará a derrubada de seu veto. Poderá dizer que seguiu à risca o que pediu seu ministro, mas que não pode forçar o Congresso a agir diferente.
Ou seja, como Dadá Maravilha, Ditinho Chumbão ou Nunes, Bolsonaro terá feito que foi, mas não foi e "acabou fondo".
O problema é que o discurso, embora sirva a uma parcela do seu eleitorado, não enganará ao ministro da Economia, nem ao Centrão, o grupo de deputados sem coloração ideológica que está aderindo ao governo no Congresso.
O Centrão sente o cheiro e carne fraca. Se achar que Bolsonaro está frágil, vai cobrar uma conta maior nas próximas votações.
Quanto ao ministro Paulo Guedes, não se sabe ao certo o que possa fazer caso se sinta mais uma vez enganado pelo chefe.
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