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Tales Faria

Para governistas, Bolsonaro veta reajuste de servidor, mas aceita derrubada

Logo após sair da visita ao presidente Supremo Tribunal  Federal, Dias Toffoli, na semana passada, Bolsonaro anunciou que atenderá ao pedido de veto de seu ministro Paulo Guedes - Marcos Corrêa/PR
Logo após sair da visita ao presidente Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, na semana passada, Bolsonaro anunciou que atenderá ao pedido de veto de seu ministro Paulo Guedes Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

11/05/2020 17h07Atualizada em 11/05/2020 22h47

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Há várias versões sobre a autoria da famosa frase "fiz que fui, mas não fui, acabei fondo". Teria sido cunhada pelos ex-jogadores Nunes, do Flamengo, Ditinho Chumbão, do XV de Piracicaba, Claudiomiro, do Internacional, ou mesmo Dario, o famoso Dadá Maravilha.

Tanto faz. O fato é que o bordão bem poderia ser adotado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Fingir que agirá de um forma, depois acenar com outra possibilidade e acabar driblando todo mundo tem sido a principal tática do presidente para lidar com temas problemáticos da política.

Bolsonaro diz que vai fazer, finge que faz, depois não faz ou acaba fazendo, de acordo com o que achar melhor. E põe a culpa das versões contrárias a seus opositores e na mídia. Pronto.

Foi o que fez neste final de semana no caso do churrasco que ofereceria a amigos, aliados e subordinados no Palácio da Alvorada. Com direito a uma partidinha de futebol.

Acabou não fazendo nada disso, foi andar de jet sky e ainda acusou a imprensa de ter inventado a história.

E é essa tática que seus aliados no Congresso estão apostando que Bolsonaro repetirá:

O presidente fingirá que adota a recomendação do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vetando a possibilidade de reajuste de salários de servidores incluídos no projeto de ajuda financeira da União a estados e municípios por conta da crise do coronavírus.

Bolsonaro, inclusive, já anunciou que o veto sai nesta segunda-feira.

O projeto inicial da equipe econômica previa uma poupança de R$ 93 bilhões obtida com o congelamento dos salários dos servidores municipais, estaduais e federais como contrapartida à ajuda aos estados.

Mas o Congresso aprovou o texto abrindo exceção para diversas categorias:

  • funcionários públicos da área da saúde;
  • funcionários públicos da área de segurança;
  • militares das Forças Armadas;
  • servidores da Polícia Federal (PF);
  • servidores da Polícia Rodoviária Federal (PRF);
  • guardas municipais;
  • trabalhadores da educação pública como os professores;
  • agentes socioeducativos;
  • profissionais de limpeza urbana e de serviços funerários;
  • profissionais de assistência social;
  • servidores das carreiras periciais, como os peritos criminais.

Com isso, a poupança caiu para R$ 43 bilhões. E Paulo Guedes logo pediu a Bolsonaro que vete todos esses reajustes.

O presidente declarou publicamente que seguirá a determinação de seu Posto Ipiranga da Economia.

Mas o reajuste foi aprovado no Congresso com o voto em massa de sua base de apoio no Parlamento. O próprio líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), declarou na tribuna apoio à decisão dos parlamentares, com o aval explícito do Palácio do Planalto.

Por conta disso, os articuladores políticos do presidente no Congresso dão como certo que Bolsonaro aceitará a derrubada de seu veto. Poderá dizer que seguiu à risca o que pediu seu ministro, mas que não pode forçar o Congresso a agir diferente.

Ou seja, como Dadá Maravilha, Ditinho Chumbão ou Nunes, Bolsonaro terá feito que foi, mas não foi e "acabou fondo".

O problema é que o discurso, embora sirva a uma parcela do seu eleitorado, não enganará ao ministro da Economia, nem ao Centrão, o grupo de deputados sem coloração ideológica que está aderindo ao governo no Congresso.

O Centrão sente o cheiro e carne fraca. Se achar que Bolsonaro está frágil, vai cobrar uma conta maior nas próximas votações.

Quanto ao ministro Paulo Guedes, não se sabe ao certo o que possa fazer caso se sinta mais uma vez enganado pelo chefe.