Topo

Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O "imbrochável" Bolsonaro brochou com as pesquisas

Colunista do UOL

13/09/2022 17h33

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Sempre que pode, o presidente Jair Bolsonaro diz que não acredita em pesquisas, "só no Datapovo", afirma, em alusão a suas próprias impressões acerca do apoio popular ao seu governo.

São impressões sem base científica, baseadas nos aplausos e elogios dos aliados, dos assessores e de seus próprios eleitores.

Entre os institutos de pesquisa que Bolsonaro diz acreditar menos, estão exatamente os dois mais prestigiados, o Datafolha e o Ipec, antigo Ibope. Mas não é bem assim.

Tanto ele como seu núcleo de assessores passam a campanha à espera dos resultados das rodadas de pesquisas, especialmente do Datafolha e do Ipec.

Nesta segunda-feira, 12, mesmo dia em que o Ipec divulgou a sua última pesquisa, Bolsonaro deu uma demonstração pública de como anda abatido com os levantamentos de intenção de voto dos dois institutos.

Em entrevista à noite para um podcast voltado ao público evangélico, afirmou que se perder a eleição irá passar a "faixa" presidencial e se "recolher", indicando até que deve abandonar a política. Com ar deprimido, admitiu até a hipótese de ser derrotado, o que nunca cogitou publicamente:

"Se não for [a vontade de Deus], a gente passa aí a faixa e vou me recolher, porque com a minha idade eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra, se acabar essa minha passagem pela política em 31 de dezembro do corrente ano."

Estava longe do presidente que puxou coro nas manifestações do 7 de Setembro aos gritos repetidos de "imbrochável, imbrochável, imbrochável!"

Um Bolsonaro —digamos, brochado— afirmou na entrevista estar arrependido de ter dito, em 2020, que não era "coveiro" para comentar as mortes por covid-19. Ainda afirmou que deu "uma aloprada" e que perdeu "a linha" quando instado a falar sobre o assunto por jornalistas.

A "brochada" vinha desde a semana anterior, quando as pesquisas internas do Planalto lhe mostraram que sua convocação para manifestações no Bicentenário da Independência trouxe os bolsonaristas para a rua, mas não trouxe votos novos.

A pesquisa do Datafolha divulgada na quinta-feira, 8, surpreendeu negativamente os bolsonaristas.

Primeiro, por causa da estabilidade dos resultados às vésperas da eleição, dando a entender que não haverá tempo para uma virada. Depois, porque o petista continuou na frente na região Sudeste e em São Paulo. E, para piorar, porque apontou o fortalecimento da hipótese de voto útil pró-Lula na reta final, já que os candidatos da chamada terceira via empacaram definitivamente.

Já pesquisa do Ipec desta segunda-feira só fez aumentar o baixo astral dos bolsonaristas. Restaurou as chances de Lula liquidar a eleição no primeiro turno, com 51% dos votos válidos. Na pesquisa, o petista oscilou positivamente dois pontos e Bolsonaro ficou estacionado, aumentado para 15 pontos a diferença entre os dois.

O levantamento também confirmou o empacamento dos candidatos da terceira via, fortalecendo ainda mais as chances de Lula receber voto útil desse grupo.

Pela primeira vez Bolsonaro admitiu a assessores que pode ter errado na estratégia de radicalizar confrontos, tanto na política como com os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ele não compareceu à posse da ministra Rosa Weber como presidente da Corte para não ouvir pessoalmente um discurso duro contra seus ataques, como ocorreu na posse de Alexandre de Moraes no comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

E Rosa Weber fez exatamente isso: um discurso duro em que afirmou que não admitirá desrespeito às decisões da Corte. Só fez aumentar o baixo astral do presidente, mesmo ele estando distante, em São Paulo, onde preferiu participar presencialmente da entrevista ao podcast.

Seus assessores temem que, neste clima, Bolsonaro não consiga se sair bem na visita à Inglaterra para participar das das solenidades pela morte da rainha Elizabeth 2ª. Nem no discurso que irá proferir, logo a seguir nos Estados Unidos, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Bolsonaro ainda não admite que brochou. Mas já aceitou que às vezes erra no trato sobre mulheres. Na tal entrevista ao podcast, afirmou:

"De mulher o que pegou pra mim foi quando eu falei que, depois de quatro filhos, vem uma filha foi uma fraquejada. Falei. Pisei na bola. Pisei na bola."

Simples assim!