Topo

Tales Faria

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Arthur Lira disse a aliados que enquadrou governo, mas pede tempo

Colunista do UOL

10/03/2023 16h41

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Política é feita de gestos e recados, mais do que de conversas francas e diretas. O último encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), serviu mais para emoldurar gestos e recados de ambos os lados do que para uma conversa franca e direta.

Após o jantar desta quarta-feira (9) com Lula, na casa do ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, Artur Lira disse a aliados que avalia ter-se acertado com o presidente da República e, com isso, conseguiu "enquadrar o governo". Segundo ele, os deputados agora terão mais chances de ser atendidas as reivindicações dos deputados ao Palácio do Planalto e aos ministérios.

Lira só pediu "um tempo" para confirmar se sua avaliação está correta. Ou seja, se de fato o governo corresponderá à sua expectativa.

No jantar, na verdade um churrasco (Paulo Pimenta é gaúcho), Lula e Arthur Lira se trataram com muita fidalguia. Produziram um gesto de aproximação capaz de promover outros encontros talvez mais francos e diretos do que este. Mas ambos sinalizaram ter se entendido e que estão prontos para atender aos desejos de parte a parte.

Os recados foram passados antes por conta de intermediários: os líderes do PT e do governo na Câmara, além dos ministros da Articulação Política, Rui Costa (Casa Civil), e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Lula já sabia o que Arthur Lira deseja e quais os problemas que teria se não atendesse. Em se tratando de problemas, o recado foi dado publicamente.

Lira afirmou na segunda-feira (6), numa reunião com empresários, que o governo não tem número de deputados suficientes para aprovar Propostas de Emendas Constitucionais (PECs), nem Medidas Provisórias (MPs).

O presidente da Câmara foi para o jantar já sabendo pelos líderes do PT e do governo na Câmara que tende a ser atendido pelo chefe do Executivo. Afinal, o governo precisará aprovar MPs e PECs para um novo ajuste fiscal e acertar a economia.

Mas o que o presidente da Câmara quer para dar a contrapartida ao Planalto?

Seu recado principal é de que ele quer centralizar as reivindicações da base governista na Câmara, especialmente as do centrão — que ele comanda — assim como as informações sobre atendimento dessas reivindicações.

Ou seja, Lira quer manter um poder semelhante ao que detinha no governo Jair Bolsonaro.

Lula, por sua vez, já havia respondido por intermédio dos interlocutores que não poderá entregar tanto espaço quanto Bolsonaro entregou, mas que atenderá a esse pedido "no máximo possível".

Afinal, o Supremo Tribunal Federal acabou com a formula de sigilo na autoria das chamadas emendas RP-9 do Orçamento, o que lhes valeu o apelido de "Orçamento secreto".

Sem as RP-9, não há como restituir ao presidente da Câmara o mesmo poder de antes. Mas há como buscar "fórmulas negociadas" de distribuição dos valores antes destinados Orçamento secreto que passem por Lira e pelo Planalto.

Lula pediu apenas a Lira que entre em acordo com o presidente do Senado sobre a tramitação das MPs e PECs para que não haja atritos entre as duas Casas nos projetos de interesse do governo.

Arthur Lira tem tentado estabelecer um rito que dê à Câmara a palavra final sobre os projetos, enquanto Rodrigo Pacheco quer que a palavra final seja dos senadores. Os dois devem se encontrar na semana que vem.

Outro ponto que também está acertado é que o PT, especialmente a presidente do partido, Deputada Gleisi Hoffmann (PR), evitará fazer críticas públicas aos demais partidos aliados.

Lira argumenta que as críticas públicas da petista ao União Brasil "geram arestas" do centrão com o principal partido do governo. E que isso atrapalhará as gestões para a aprovação de matérias que o governo considere importantes.

Tem aquela história de que o Lula sempre lança mão, de que não pode controlar o PT. Mas ele deixou claro que trabalhará para evitar uma postura beligerante do comando do partido. Usou como exemplo a atuação dos líderes do PT na Câmara, "todos já afinados" com Arthur Lira.

Enfim, o jantar serviu apenas para selar o que já estava discutido e acertado por intermédio dos líderes do PT e ministros da articulação política presentes ao encontro.