Thais Bilenky

Thais Bilenky

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Gestos de Lira ameaçam acordo com Lula na sucessão da Câmara

A aprovação a toque de caixa da urgência para o projeto que equipara aborto a homicídio consolidou a leitura entre deputados de que há um afastamento entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Esse movimento ameaça inclusive o poder de veto que Lira sinalizou que daria a Lula na escolha de um nome consensual para disputar sua sucessão na presidência da Câmara, em fevereiro de 2025.

Deputados enfronhados na disputa interna da Casa percebem uma mudança sensível no ambiente da sucessão. A decisão de votar a urgência do projeto contra o aborto foi um recado em duas frentes.

Primeiro, Lira fez um gesto de peso à bancada conservadora, em particular a evangélica, ao levar a plenário uma das bandeiras mais centrais da pauta de costumes. Ele espera com isso aglutinar apoio entre esses deputados ao nome que ele escolher pra sucessão.

Segundo, com essa decisão, Lira abriu mão de um acordo tácito com o Palácio do Planalto de priorizar a agenda econômica mais consensual entre governo e Congresso.

Desta vez, os governistas reagiram de maneira diferente da adotada em derrotas anteriores e não reclamaram publicamente. Deixaram setores da opinião pública bater de frente com a Câmara sem se posicionar oficialmente.

Lira fez outro gesto aos bolsonaristas no mesmo dia ao pautar a urgência do projeto que invalida delações premiadas se o colaborador estiver preso. O projeto foi proposto por um ex-deputado petista, em 2016, quando as delações miravam o PT e sobretudo Lula. Não avançou. Ao tirá-lo da gaveta agora, a Câmara poderia vir a beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, se inviabilizasse a delação de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

A Câmara também aprovou a urgência deste texto na terça. Com isso, os dois projetos vão ser analisados no mérito diretamente em plenário, sem precisar passar antes por comissões, o que acelera sua tramitação.

Se aprovados, os projetos precisarão passar pelo Senado para ir à sanção presidencial.

A discussão do texto contra o aborto na Câmara foi permeada de provocações de deputados da bancada evangélica a Lula. Um dos autores, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que era um teste para o presidente com o segmento evangélico.

Essas duas iniciativas de Lira ocorrem enquanto o seu candidato preferencial a presidente da Câmara faz um movimento em sentido inverso.

Político de direita, Elmar Nascimento atravessou o plenário para angariar apoio na esquerda e centro-esquerda.

Fechou acordo para que seu partido, o União Brasil, apoie a reeleição do prefeito de Recife, João Campos. Em troca, o partido do prefeito, PSB, apoia Nascimento na eleição da Câmara.

O deputado também se aproximou do PDT, indicando apoio do União Brasil em prefeituras comandadas pela legenda trabalhista.

Nascimento não é o nome favorito de alas importantes do governo, inclusive no Palácio do Planalto. Como ele se fortaleceu com os movimentos recentes, deputados passaram a trabalhar com a hipótese de Lira apoiá-lo com ou sem apoio do governo Lula.

Em outra raia, corre Antonio Brito, do PSD baiano, o mais governista dos candidatos, que fez movimento similar ao de Elmar Nascimento e intensificou o contato com deputados de direita, bolsonaristas inclusive.

Há ainda na disputa o deputado paulista Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, e o alagoano Isnaldo Bulhões, líder do MDB.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes