Topo

Thaís Oyama

Pesquisa mostra que brasileiros não reconhecem Bolsonaro como líder

"Isso aí é o que vocês têm de melhor?" - Reprodução
"Isso aí é o que vocês têm de melhor?" Imagem: Reprodução

Thais Oyama

Colunista do UOL

23/03/2020 13h09

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Leve-me ao seu líder".

Se um extraterrestre visitasse hoje o Brasil, teria de ser levado à presença do ministro Henrique Mandetta. A pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira deixa claro que os brasileiros não reconhecem Jair Bolsonaro como uma liderança capaz de fazer frente à crise do coronavírus.

Ao menosprezar a ameaça que 88% da população consideram "muito grave", desobedecer recomendações médicas de isolamento (que visavam a evitar a contaminação de OUTRAS pessoas) e chamar o Covid-19 de "gripezinha", o presidente demonstrou apenas quão irresponsável é capaz de ser.

Mas isso não foi o pior.

No domingo, Bolsonaro, já carbonizado nas redes, tentou oxigenar sua imagem. Para isso, achou por bem divulgar um vídeo em que, vestindo uma camisa do time de futebol São Vicente e olhando a todo momento para a câmera errada, anunciou ter determinado ao Exército a produção maciça de cloroquina, cuja venda "para outros países está agora proibida". Pretendia assim ser o mensageiro de uma "boa notícia", lembrar que é o chefe das Forças Armadas e tirar uma casquinha da experiência promissora dos médicos com o uso experimental do medicamento no tratamento da doença. Tudo o que conseguiu, no entanto, foi uma reprimenda velada do ministro da Saúde no dia seguinte ("Esse medicamento é experimental (...) tem uma série de contraindicações, não adianta sair comprando e colocar em casa, porque pode morrer do medicamento. Deixa isso nas mãos dos médicos", disse Mandetta) e um abalo ainda maior na sua imagem.

O presidente, que já havia apanhado o fim de semana inteiro por se recusar a divulgar os resultados do seu exame de coronavírus, com o vídeo de fundo de quintal passou a ser visto não apenas como alguém pouco responsável, mas como alguém pouco confiável.

Como na política não há vácuo, diversos candidatos a assumir o lugar do líder ausente já se apresentaram. Uns fazem isso ocupando concorridos espaços na TV com pronunciamentos e entrevistas bem mais extensas do que o necessário. Outros, por falta de cargo e mandato, gravam lives de despudorado apelo sentimentalista, como fez ontem Ciro Gomes, que, com voz tremelicante e fungando a seco, declarou seu desejo de "abraçar o povo". Crise para uns, oportunidade para outros.