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Thaís Oyama

O terceiro teste de coronavírus que Bolsonaro nunca revelou

Presidente Bolsonaro: algo a esconder? - ADRIANO MACHADO
Presidente Bolsonaro: algo a esconder? Imagem: ADRIANO MACHADO

Thais Oyama

Colunista do UOL

25/03/2020 04h00

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O presidente Jair Bolsonaro se recusa a apresentar os laudos dos exames de coronavírus a que foi submetido desde que um dos secretários com quem viajou para o exterior foi diagnosticado com o Covid-19. Seu colega Donald Trump, dos Estados Unidos, mostrou os dele. O governador de São Paulo, João Dória, também. Mas o presidente brasileiro se nega a dirimir as dúvidas sobre a sua saúde.

Ele submeteu-se a exames para identificar se havia contraído o coronavírus em duas ocasiões. A primeira foi no dia 12 de março, assim que chegou de viagem. A outra foi no dia 17, para a chamada contraprova. Entre os dois testes, houve a manifestação em seu apoio no dia 15, quando, contrariando recomendações de isolamento feitas por seu médico, Bolsonaro foi à passeata, misturou-se à multidão e apertou a mão de apoiadores em Brasília.

Os dois testes que ele divulgou tiveram, segundo o presidente, resultado negativo. Bolsonaro informou a conclusão do primeiro num tuíte publicado em 13 de março. A conclusão do segundo foi postada, também no Twitter, na noite do dia 17.

Ocorre que os médicos que foram ao Palácio da Alvorada, na manhã daquele dia 17, para submeter Bolsonaro ao segundo exame, enviaram o material coletado para dois laboratórios, o Sabin e o Fiocruz. Bolsonaro só postou a conclusão da contraprova feita pelo Sabin. Nunca deu uma palavra sobre o resultado do exame da Fiocruz.

Os jornais "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo" encaminharam há dias à Secretaria da Comunicação solicitação para ter acesso aos laudos dos testes do presidente. Não tiveram qualquer resposta. Em duas entrevistas coletivas de que Bolsonaro participou, recebeu diretamente de repórteres o pedido para divulgar os papeis de seus exames. Nas duas ocasiões, tergiversou. Numa delas, foi socorrido pelo ministro Henrique Mandetta, que, tomando a frente do chefe, disse ao jornalista que o inquiria serem os exames que cada indivíduo faz uma questão "da sua intimidade". Errado.

Bolsonaro deveria atender os pedidos para tornar públicos todos os seus exames — em especial o da Fiocruz, sobre o qual nunca falou — por duas razões ao menos:

1) É presidente da República e sua saúde interessa aos brasileiros

2) Caso tenha sido infectado, as pessoas que cumprimentou no dia 15 têm o direito de saber disso - e Bolsonaro, o dever de informá-las

Por fim, de um presidente da República espera-se que inspire confiança na população - e não o contrário.