Deixem "E o Vento Levou" e a estátua do Borba Gato em paz
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Tiraram do streaming "E o Vento Levou".
O filme sobre a Guerra Civil americana, vencedor de oito Oscar, entrou no index do antirracismo por mostrar escravos inconscientes da opressão e escravagistas em papeis de herói. O filme foi rodado em 1939 e mantém o título de uma das maiores bilheterias de todos os tempos.
A onda de fúria contra o passado, despertada pelo assassinato de George Floyd, tem banido filmes, derrubado estátuas e renomeado ruas e departamentos.
No Reino Unido, a imagem de Winston Churchill que fica em frente ao Parlamento britânico foi pichada: "Era um racista". Para o pichador, e não poucos historiadores, o ex-primeiro-ministro britânico que liderou a vitória de seu país contra o nazismo merece arder no inferno porque foi um defensor do imperialismo britânico — um supremacista branco.
Não foi o único ex-primeiro ministro britânico chamuscado pelos protestos. A Universidade de Liverpool anunciou que a ala de dormitórios dos estudantes batizada "Gladstone" não mais se chamará assim. Ela será renomeada porque o pai do por quatro vezes chanceler do Reino Unido foi um proprietário de escravos, uma prova de que não só na Coreia do Norte filhos pagam o preço pelos pecados dos genitores.
No Brasil, mais uma vez a estátua de Borba Gato virou assunto.
Querem pô-la abaixo não porque é uma obra medonha — feia e desproporcional— mas porque o bandeirante, morto em 1718, era um "racista, misógino e assassino".
Iconoclastas indignados de todo o mundo, devagar com o andor, por favor.
Derrubar estátuas e jogar filmes na fogueira não combina com a era de tolerância e o fim das discriminações por que lutam inclusive os que foram às ruas mostrar sua indignação pelo assassinato de um homem negro e desarmado por um policial branco e sádico.
Cancelar a história é também discriminar os que viveram nos limites do conhecimento do seu tempo e que, antes de ser esconjurados por isso, poderiam contribuir para a evolução da humanidade com a simples lembrança de suas existências.
Uma estátua é uma estátua é uma estátua.
A reverência com que alunos de antigamente foram levados por seus professores a olhar para o bandeirante gigantesco nunca foi uma imposição do monumento, mas o resultado de uma visão hoje anacrônica das pessoas sobre ele.
Mude-se o olhar, deixe-se as estátuas e os filmes em paz.
Os mortos ainda têm a ensinar, nem que seja por meio dos erros que cometeram.
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