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Thaís Oyama

A tragédia de Manaus começou quando se fecharam as urnas em 2018

O governador Wilson Lima, réu no STJ por corrupção, diz ter sido "surpreendido" pela calamidade em seu estado  - Sandro Pereira/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O governador Wilson Lima, réu no STJ por corrupção, diz ter sido "surpreendido" pela calamidade em seu estado Imagem: Sandro Pereira/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

15/01/2021 10h28

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O estoque de cilindros de oxigênio acabou em diversos hospitais em Manaus, o que tem feito dezenas de pacientes internados morrerem por asfixia.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse ontem ter sido "surpreendido" pelo "aumento excepcional" da demanda pelo insumo na capital do seu estado.

Manaus foi uma das cidades mais afetadas pela Covid-19 na primeira onda da pandemia, quando mortos pela doença tiveram de ser enterrados em valas coletivas. Em dezembro de 2020, logo depois do Natal, o novo aumento das contaminações já tinha feito as UTIs da capital superarem os 85% de sua capacidade.

Wilson Lima não deveria estar surpreendido com a calamidade que o estado liderado por ele enfrenta hoje. O governador deve saber que, em condições normais, a rede hospitalar de alta complexidade do Amazonas já trabalha com 70% de sua ocupação. Isso significa que, quando a pandemia chegou, Lima tinha ciência de que só poderia contar com 30% dos leitos de UTI existentes para receber os doentes de Covid-19.

Wilson Lima — o governador pego de surpresa pelo fim do estoque de oxigênio para doentes que, por causa disso, morrerão por falta de ar— e Jair Bolsonaro - o presidente que desde o primeiro dia da pandemia fez o que pode para sabotar as únicas medidas capazes de conter o avanço do vírus— mostraram quão trágicas podem ser para a população as consequências do despreparo de um governante.

Mas Lima e Bolsonaro têm mais em comum.

O governador do Amazonas é um ex-locutor de rádio e apresentador de TV de 44 anos que antes de ser eleito nunca havia administrado nem sequer uma quitanda.

Empossado, cercou-se de amigos à sua imagem e semelhança, jovens sem experiência em administração.

Em meio à pandemia, nomeou para coordenador do Comitê de Crise contra a Covid-19 um tenente-coronel da Polícia Militar e, para a Secretaria de Saúde, um engenheiro.

Marcellus Campêlo foi efetivado no comando da pasta —que ficou mais de um mês sem titular— depois que a sua antecessora, Simone Papaiz, foi presa pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento na compra superfaturada de respiradores.

O governador Lima é acusado de comandar o esquema. Ele chegou a ter sua prisão pedida pela Polícia Federal (a Justiça rejeitou o pedido) e hoje é réu por corrupção no Superior Tribunal de Justiça, além de viver no limiar do impeachment —em agosto do ano passado, a Assembleia Legislativa livrou-o do pedido de abertura de um processo por crime de responsabilidade.

A tragédia de Manaus não tem a ver com a umidade do clima nessa época do ano, como afirmou o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde do governo Bolsonaro.

Ela começou junto com a tragédia do Brasil, no dia 28 de outubro de 2018, quando a inépcia, o despreparo e a irresponsabilidade venceram as eleições.

[A colunista sai de férias e retorna dia 1º de fevereiro]