Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Para mercado, se Lula caminhar para o centro, Bolsonaro fica a ver navios
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O dólar fechou a R$ 5,80 ontem e o risco-país subiu 9,55% na segunda-feira, maior nível desde novembro de 2020.
O mau humor do mercado é uma resposta tanto à provável entrada de Lula na disputa para a Presidência quanto à aparente guinada de Bolsonaro ao campo populista —movimento que tende a se acentuar num cenário em que o ex-capitão enfrente em 2022 um adversário com forte penetração nas classes D e E, caso de Lula.
Nos últimos dias, Bolsonaro alarmou os agentes financeiros não com uma, mas com várias atitudes na direção da irresponsabilidade fiscal com vistas a agradar setores de sua estima.
A mais recente foi a participação do presidente nas negociações da PEC Emergencial, quando ele deixou à mostra sua disposição de enfraquecer o próprio projeto.
No Senado, chegou a flertar com a ideia de furar o teto de gastos. Na Câmara, cogitou retirar da proposta a obrigação do governo de rever benefícios tributários —e ainda deixar de fora do sistema de gatilhos para a categoria dos policiais.
Isso tudo quando o trauma da sua ação intervencionista na Petrobras ainda latejava forte.
Para os donos do PIB, Bolsonaro já entrou na fase vermelha.
Quanto a Lula, recém promovido por Bolsonaro à categoria de "ex-demônio", resta a dúvida: o provável candidato do PT à Presidência da República em 2022 será o Lula do primeiro mandato, que tinha ao seu lado Antonio Palloci, Marcos Lisboa, Joaquim Levy e Murilo Portugal?
Ou será o Lula que, no segundo tempo, nomeou Guido Mantega ministro da Fazenda e Arno Augustin guardião do Tesouro (dupla que seguiu fazendo estragos no governo Dilma)?
Diz um conhecedor do mercado com vasta experiência de governo:
"O Lula 1 foi aquele que montou uma equipe liberal e aprovou o Bolsa Família. Se ele voltar para repetir essa performance, não só terá o voto de muita gente da área financeira como vai virar herói de novo".
Se há uma qualidade que ninguém nega em Lula é o seu tirocínio político. A hipótese do petista caminhar na direção do centro estimulará o PIB a abandonar Bolsonaro de vez.
Mas o ex-capitão pode não ser o único a ficar vendo navios.
A tal "frente de centro", que até hoje não se entendeu em torno do nome de seu candidato, bem faria em se apressar.
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