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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro adota figurino de vítima e diz que, impichado, não sai do Palácio

O presidente Jair Bolsonaro: tática por trás de atitudes de louco varrido - Ansa
O presidente Jair Bolsonaro: tática por trás de atitudes de louco varrido Imagem: Ansa

Colunista do UOL

11/08/2021 11h12

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Os jornais de hoje amanheceram com a mesma pergunta: Jair Bolsonaro vai ou não "aceitar" a decisão do Legislativo de enterrar a ideia do voto impresso? Não sendo Bolsonaro imperador nem monarca absolutista, mas presidente de uma república, a questão pré-iluminista deveria soar apenas bizarra — se não tivesse fundamento na realidade.

Na semana passada, Bolsonaro chegou a dizer que não "aceitaria" ser impichado e, caso fosse (hipótese em que nem ele e nem seu entorno acreditam no momento), simplesmente não deixaria sua cadeira no Planalto. "A Polícia Federal vem me tirar daqui?", disse, em tom de desafio.

O relato é de um assessor próximo do presidente e integrante do primeiro escalão do governo. Segundo esse assessor, Bolsonaro não teria problemas em acatar um eventual afastamento se tivesse infringido a lei, mas não aceitará ser punido por aquilo que entende ser um "crime de opinião": a "opinião" de que as urnas eletrônicas são vulneráveis e possibilitaram a ocorrência de fraudes em eleições passadas (não há qualquer prova e nem mesmo um indício de que isso tenha acontecido).

Há pouco, no seu púlpito improvisado no cercadinho do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro respondeu à dúvida que estampou os jornais de hoje: não, ele também não "aceitará" o resultado da votação na Câmara dos Deputados que arquivou a PEC do voto impresso.

Para o presidente, o placar do plenário indica que "metade [dos deputados] não acredita 100% na lisura do TSE" e, sendo assim, em 2022 "não se vai confiar no resultado das apurações".

Em sua fala, o presidente poupou os partidos aliados que o traíram no plenário da Câmara, a começar pelo PP e PL (mais da metade das bancadas dessas siglas do Centrão votou contra o voto impresso ou se ausentou da votação, o que dá no mesmo).

No lugar de criticar os aliados que ajudaram a matar o voto impresso, e que, sabe o ex-capitão, detêm a guilhotina que pode fazer rolar a sua cabeça, Bolsonaro jogou a responsabilidade outra vez no colo do presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

O ex-capitão disse crer que, parte dos deputados que votaram contra o voto impresso, "votou chantageada", numa referência à articulação feita por Barroso junto a lideranças parlamentares para derrubar o projeto. O ex-capitão insinua que Barroso tentou pressionar deputados a se posicionar contra o voto impresso usando de sua condição de juiz no TSE e no STF, tribunais onde diversos parlamentares respondem a inquérito.

Bolsonaro pode dar mostras de ser louco varrido, mas tem uma tática bem definida.

Assim como o ex-presidente Lula contou com a "ajuda" do ex-ministro Sergio Moro para passar de vilão a injustiçado, o ex-capitão tratou de achar um juiz para chamar de algoz. Afinal, na arena eleitoral, é bem melhor entrar como "vítima" do que "genocida".