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Bolsonaro pôs o impeachment na mesa: olhos agora se voltam para o Centrão
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O presidente Jair Bolsonaro deu o seu mais largo passo em direção ao próprio impeachment ao dizer que não cumprirá ordens judiciais vindas de um ministro do Supremo Tribunal Federal e que só morto deixará a Presidência.
Diante das falas desesperadamente golpistas do ex-capitão, lideranças políticas de peso que haviam se colocado publicamente contra o seu afastamento, como Gilberto Kassab, presidente do PSD, já reavaliam suas posições.
O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL), disse que, caso Bolsonaro leve adiante sua ameaça de desacato ao STF, "não terá outra alternativa ao presidente Arthur Lira que não seja ler o processo de impeachment".
A partir de amanhã, uma nova leva de pedidos de afastamento do ex-capitão aterrissará na mesa de Lira — a quem, ao fim e ao cabo, cabe a palavra final sobre a oportunidade de abrir ou não o processo.
A palavra "final" de Lira vinha sendo "não". E caso ache conveniente, o líder do Centrão sempre poderá mantê-la sob o argumento de que "ameaçar" desacatar uma ordem judicial não é o mesmo que fazê-lo.
Ocorre que o impeachment, mesmo sem prescindir de base jurídica, é um julgamento político, e o Centrão é um bloco de partidos que, ao alugar sua lealdade ao mandatário da vez, pesa o custo e o benefício da ação. Até ontem, na aliança com Bolsonaro, o benefício das emendas bilionárias e dos cargos à mancheia superava o custo do desgaste presidencial.
Desde ontem, porém, o preço de compactuar com um projeto golpista desequilibrou a equação para os aliados do governo — sem falar nos prejuízos práticos que o 7 de setembro de Bolsonaro causou.
Com o rompimento da pinguelinha que ainda ligava o presidente ao Supremo, a possibilidade de o governo conseguir bancar o Auxílio Brasil por meio de um acordo com o Poder Judiciário, e sem a PEC dos Precatórios, ficou bem mais distante — para grande insatisfação de parlamentares para os quais a possibilidade de usufruir dos dividendos eleitorais do benefício junto às suas bases já estava na conta.
Bolsonaro causou um estrago político de magnitude inédita e o que viram seus aliados foi o mesmo que viu boa parte do Brasil: um presidente que, com escassas perspectivas de se manter no poder diante de uma popularidade em queda, 15 milhões de desempregados, inflação próxima de dois dígitos e nenhuma disposição de se confrontar com as próprias limitações, parece disposto a se auto-explodir — e a espalhar os estilhaços pelo país.
Bolsonaro partiu ontem para o tudo ou nada e ficou bem mais perto do nada.
A sobrevivência política do presidente depende do Centrão, e o contrário não é verdadeiro. As lideranças do bloco, que reúne em torno de 220 deputados, não irão abandonar o barco amanhã, mas medirão polegada a polegada o soçobramento da embarcação.
Com a tranquilidade de quem sempre teve o cuidado de manter os pés em duas canoas.
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