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Bob, o comissário de bordo (parte 2)
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Esta é parte da versão online da edição de segunda-feira (14) da newsletter de Thaís Oyama — um olhar diferente sobre a intimidade de personagens desconhecidos com vidas extraordinárias. Nesta segunda parte da série com Bob (o nome é fictício), 55 anos, chefe de comissários de uma das maiores companhias aéreas do mundo, ele conta como foi lidar com uma morte a bordo e revela segredos de avião que passageiros desconhecem. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.
Recentemente, o meu maior medo se realizou. Tivemos uma morte a bordo. O passageiro estava com a mulher e o filho e não acordou para o café da manhã. O filho entrou em pânico. Nessas horas, o chefe da cabine tem de ver se tem médicos a bordo.
Nós temos uma mensagem pré-gravada para esse tipo de evento, para não deixar que a voz do comissário traia o seu nervosismo. Eu acionei o chamado, mas ninguém se apresentou. Então, eu tive de pegar o microfone e falar direto. Aí duas pessoas se apresentaram. Médicos sempre esperam outros se apresentarem antes deles. É como no nosso caso: o comissário que atende o problema assume o problema.
No avião, nós temos o kit medicação, que só os médicos podem abrir. Mas nem sempre eles sabem o que fazer com o material. Estão fora do ambiente do hospital, às vezes não estão preparados para atender emergências.
Um dos médicos começou a picar o senhor com a seringa, o outro ficou lendo as bulas, e nós, comissários, ficamos no desfibrilador, só que ele não dava mais choque. Estava claro que o senhor já tinha morrido. Mas, num avião, só um médico ou um padre podem declarar alguém morto.
Quando você tem uma morte a bordo, uma aterrissagem forçada ou qualquer outra situação traumática, a tripulação suspende a rotina. A empresa considera que ela não está mais sã e manda de volta para casa. Ninguém trabalha até fazer a reunião com psicólogo, supervisor, gerente da base. Mesmo quem não viu nada é afetado de alguma forma.
Nessas reuniões, todo mundo fala o que sentiu. A pessoa começa a contar e todo mundo desaba a chorar. No caso do passageiro que morreu, para mim, o que mais me afetou foi a sensação de não ter podido fazer nada.
Se é um problema de refeição que não veio, se um passageiro vai perder a conexão, tudo isso a gente resolve ou minimiza, mas quando chega naquele ponto, um coração que para a 31 mil pés de altura... Meu Deus, eu me senti um nada.
Bob também conta das portas secretas que existem nos aviões, revela por que comissários nunca bebem o café servido aos passageiros e explica por que, muitas vezes, a própria tripulação tem interesse em atrasar a decolagem do voo.
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