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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quase sem cartas na mão, Bolsonaro pode apressar o fim do jogo em setembro

Colunista do UOL

27/07/2022 09h03

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O presidente Jair Bolsonaro passou os últimos dois meses obcecado pela ideia de que sem uma redução no preço dos combustíveis sua reeleição correria riscos. Na tentativa de evitar essa ameaça, cortou cabeças na Petrobras, pulverizou impostos federais, arrumou briga com governadores e mandou criar 42 bilhões de bondades —entre elas o auxílio-caminhoneiro, o auxílio-taxista e o vale-gás, além do aumento do Auxílio Brasil para R$ 600.

Na semana passada, o preço da gasolina nas refinarias finalmente caiu, mas o ex-capitão mal pôde comemorar a notícia.

Pesquisa Exame/Ideia divulgada na quinta-feira (21) revelou que, embora quase 40% dos brasileiros tenha notado que o combustível ficou mais barato nas últimas semanas, isso em nada melhorou a imagem do presidente.

Segundo o levantamento, a porcentagem de brasileiros que considera o governo Bolsonaro "ruim" ou "péssimo" subiu para 48%, a mais alta porcentagem em três meses, enquanto que a parcela dos que acham que ele é ótimo, bom ou regular caiu.

A PEC que aumentou em R$ 200 o valor do Auxílio Brasil ameaça ir pelo mesmo caminho.

Para criá-la, Bolsonaro espremeu a última gota de pudor liberal que restava ao ministro Paulo Guedes e não hesitou em atropelar a legislação eleitoral — no que foi imediatamente seguido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), ágil na invocação das heterodoxias que serviram para aprovar em tempo recorde a proposta agora também conhecida como PEC da Emergência Eleitoral.

Os primeiros pagamentos do Auxílio Brasil começarão a cair na conta dos beneficiados só no mês que vem. Pesquisas qualitativas, porém, já apontam que os efeitos eleitorais da iniciativa deverão ser limitados: como ocorreu até agora no caso dos combustíveis, as bondades do governo não necessariamente se converterão em votos para o seu titular.

O economista Maurício Moura, fundador do instituto Ideia, estima que na região Nordeste, a mais beneficiada pelo Auxílio Brasil, Bolsonaro irá crescer no máximo 3 pontos percentuais de intenção de votos até a data da eleição. Como o Nordeste concentra 27% do eleitorado brasileiro, esses 3 pontos percentuais na região equivaleriam a menos de 1% de crescimento do presidente no cenário nacional — ou seja, estão longe de significar uma virada. Os próprios integrantes da campanha de Bolsonaro consideram inútil continuar centrando esforços no Nordeste.

No último domingo, Bolsonaro sacou o que parece ser uma de suas últimas fichas nessas eleições.

Em tom dramático, convocou apoiadores para uma "última" manifestação nas ruas.

Foi uma jogada arriscada.

Como diz um aliado do centrão, o presidente "pode ter cavado o seu dia de Collor". Trata-se de uma referência ao infeliz 13 de agosto de 1992 em que o ex-presidente Fernando Collor de Mello, pressionado por acusações de corrupção, pediu à população que saísse às ruas no fim de semana seguinte vestida de verde e amarelo em sinal de apoio ao governo. Como se sabe, o preto tomou as avenidas, e duas semanas depois, o Congresso deu o primeiro passo para a abertura do processo de impeachment contra Collor.

Se Bolsonaro levar a ferro e fogo a convocação que fez no domingo, estará apostando na capacidade de, em 40 dias, colocar nas ruas uma multidão igual ou maior que aquela que compareceu ao tumultuado 7 de setembro do ano passado. Será uma prova de força e uma poderosa alavanca de campanha.

Qualquer coisa menor que o ano passado, no entanto, será tratada como um fracasso.

E, nesse caso, a ousada cartada de Bolsonaro terá o efeito de um blefe que só serviu para antecipar o resultado do jogo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O ex-presidente Fernando Collor nasceu no Rio de Janeiro. O texto foi corrigido

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL