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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Cola" na mão e comitiva visavam a pressionar Globo, perto da concessão

Colunista do UOL

23/08/2022 10h01

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Não foi "cola", mas uma ameaça velada.

A imagem das palavras que o presidente Jair Bolsonaro rabiscou na palma da mão antes de se apresentar na entrevista ao Jornal Nacional, e que viralizou com o post da cantora Anitta, tinha como único propósito ser notada —e notada pelos seus anfitriões, a família Marinho, dona das Organizações Globo.

As palavras "Nicarágua, Colômbia e Argentina" estavam lá apenas para fazer companhia à que realmente interessava, o nome de Dario Messer, o "doleiro dos doleiros" que, em delação premiada feita em 2020, acusou, sem apresentar provas, a família Marinho de fazer operações ilegais de câmbio.

Ontem, uma fonte ligada ao presidente Jair Bolsonaro já havia revelado que o ex-capitão chegaria à Globo munido de "todo tipo de armamento" para o caso de os apresentadores "escalarem demais".

.A menção a Dario Messer fazia parte desse arsenal — caso fosse usada, equivaleria à referência que o então candidato fez em 2018 ao editorial em que Roberto Marinho defendeu a ditadura militar, já reconhecido como um erro pela Globo.

Foi pelo mesmo motivo — mostrar que tinha pedras no bolso caso ficasse desagradado com o tratamento recebido — que Bolsonaro foi aos estúdios do Projac acompanhado não de seu marqueteiro Duda Lima, mas de Fabio Faria (Comunicação) e Paulo Guedes (Economia), além de Fabio Wajngarten (sem cargo, mas com várias atribuições).

Os três nomes estão direta ou indiretamente envolvidos no processo de renovação da concessão da emissora, que expira no dia 5 de outubro, 3 dias depois do primeiro turno.

As concessões para exploração dos canais abertos de televisão duram 15 anos. A partir daí, as emissoras têm de solicitar a renovação da permissão ao Ministério das Comunicações, que encaminha parecer ao Palácio do Planalto. A Presidência envia sua posição ao Congresso, que tem a palavra final sobre a decisão.

O presidente, contudo, já deu sinais de que pode dificultar a renovação no caso da Globo. Em fevereiro deste ano, Bolsonaro declarou que a emissora pode "enfrentar dificuldades" no processo e que precisaria estar "arrumadinha" para conseguir a permissão.

A "cola" e a comitiva de ontem foram a tentativa de blindagem de Bolsonaro e o seu recado ao inimigo.

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