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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Medo de perder empresários para Lula fez Bolsonaro ir à posse de Moraes

Colunista do UOL

17/08/2022 10h08

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A ida de Jair Bolsonaro à posse do novo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, foi resultado de uma costura feita pelo núcleo político do Planalto temeroso de "perder o empresariado para Lula".

A possibilidade passou a assombrar o governo desde a divulgação da "Carta pela Democracia", no mês passado. O documento, gestado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, teve a adesão de quase um milhão de pessoas, mas a assinatura de pesos pesados do mundo empresarial e financeiro foi o que particularmente enfureceu Bolsonaro, que chamou o texto de "cartinha".

Disse o presidente: "Você pode ver, esse negócio de carta aos brasileiros, à democracia: os banqueiros estão patrocinando. É o Pix, é que eu dei paulada neles".

Essa primeira reação de Bolsonaro ao documento foi considerada desastrosa por estrategistas do governo. Nas palavras de um deles, o presidente, ao atacar a elite financeira, "fez o governo ir para o campo oposto: para a posição daqueles que os banqueiros e os empresários mais rejeitam".

A partir da declaração de Bolsonaro, os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Ciro Nogueira, da Casa Civil, passaram a se empenhar na tentativa de convencer o presidente de que sua presença na posse do arqui-inimigo Moraes seria a melhor forma de dar ao segmento uma demonstração pública de apreço à estabilidade democrática do país.

As alegações apresentadas ao presidente por Guedes e Ciro Nogueira incluíram a de que, se Bolsonaro vive dizendo que a esquerda irá transformar o Brasil numa Venezuela, não pode ser ele o sujeito que ataca o mercado e as instituições. "Se nós viramos os caras que os caras detestam, como vamos dizer para eles que o outro lado é o caos?", argumentaram.

Ao final, Bolsonaro assentiu em ir à cerimônia desde que Alexandre de Moraes fosse ao Palácio convidá-lo pessoalmente.

Moraes, inicialmente, resistiu à ideia. Foi só depois de uma série de telefonemas disparados por Guedes que o magistrado acabou comparecendo ao Palácio na última quarta-feira, acompanhado por Ricardo Lewandowski, desde ontem vice-presidente do TSE.

A operação para levar Bolsonaro à posse de Moraes durou até a manhã de ontem, quando uma série de tuítes postados pelo ministro Ciro Nogueira visou ao mesmo tempo garantir que o presidente não mudaria de ideia na última hora (dando sua ida à cerimônia como fato consumado) e oferecer uma satisfação aos seguidores do ex-capitão, compreensivelmente confusos com a decisão do mito de ir à festa do seu algoz.

"Cada um com sua visão de mundo, cada um que nunca escondeu do outro e do país suas convicções, mas ali estarão juntos numa cerimônia para praticarem o ato maior da democracia: a tolerância entre os que pensam por vezes diferente", escreveu o ministro. "Brasil acima de tudo", completou.

Ao final, como seu viu, Bolsonaro foi à festa do inimigo, mas para quem ainda tinha esperanças de que isso significava uma "conversão" do ex-capitão às regras eleitorais vigentes, as imagens do semblante presidencial diante dos elogios à urna eletrônica falaram por si: o que Bolsonaro ofereceu ao TSE foi uma trégua, não a paz.