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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Histórico de abstenção nas eleições tende a beneficiar Bolsonaro neste ano

O presidente Jair Bolsonaro participa da cerimônia que antecede a partida da missão brasileira de ajuda humanitária ao Líbano  - VAN CAMPOS/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro participa da cerimônia que antecede a partida da missão brasileira de ajuda humanitária ao Líbano Imagem: VAN CAMPOS/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

24/08/2022 04h00

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Esta é parte da versão online da edição da newsletter da Thaís Oyama enviada ontem (23). Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista conta por que o histórico da taxa de abstenção nas últimas eleições presidenciais no Brasil tende a beneficiar o candidato do PL, o presidente Jair Bolsonaro. O texto traz ainda a coluna "Em off", que revela quem é o "Carluxo do PT" e como ele é visto por um coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Inscreva-se aqui.

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Nas duas últimas eleições presidenciais, em torno de 20% dos eleitores aptos a votar (quase 30 milhões de brasileiros) não compareceram às urnas no primeiro turno. E tanto em 2014 quanto em 2018, foram os mais pobres e menos escolarizados os que mais faltaram no dia da eleição.

Assim, se a taxa de abstenção e o perfil dos eleitores que a compõem seguirem o mesmo padrão neste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preferido de cerca de 60% dos brasileiros que estudaram até o fundamental, tende a ser mais prejudicado do que o presidente Jair Bolsonaro, que tem o grosso do seu eleitorado (em torno de 30%) concentrado entre os brasileiros com curso superior.

As pistas que dão as eleições passadas

Uma pista de como se comportará a taxa de abstenção neste ano foi dada na pesquisa CNT/MDA divulgada no último mês de maio.

O instituto MDA perguntou a 2 002 eleitores se eles pretendiam comparecer ao local de votação na data marcada para o primeiro turno.

A intenção era avaliar em que segmentos do eleitorado a abstenção poderia ser maior e, portanto, qual dos dois principais candidatos, Lula ou Bolsonaro, seria mais afetado por ela.

Se mais homens que mulheres respondessem que não iriam comparecer à votação, isso tenderia a prejudicar mais Bolsonaro do que Lula, já que o presidente tem a preferência do eleitorado masculino.

Se mais católicos do que evangélicos dissessem não pretender ir às urnas, isso indicaria um maior prejuízo para Lula, que tem mais votos entre esses fieis do que Bolsonaro.

Mas o resultado da pesquisa mostrou diferenças praticamente desprezíveis na comparação por gênero e religião: a perspectiva de abstenção entre homens e mulheres revelou-se praticamente a mesma, assim como entre evangélicos e católicos.

Os únicos recortes que apontaram uma diferença significativa na intenção de comparecer ou não à votação do dia 2 de outubro foram escolaridade e renda.

"Entre os mais pobres e menos escolarizados, a intenção de não ir às urnas foi o dobro da verificada entre os mais ricos e com maior grau de instrução", afirma Marcelo Marcelo Costa Souza, diretor-executivo do instituto de pesquisas MDA. "Se essa tendência se confirmar em outubro, o beneficiado será Bolsonaro", diz o pesquisador.

O que pode mudar a tendência da abstenção favorecer Bolsonaro

O resultado da pesquisa do instituto MDA — que aponta uma maior taxa de abstenção entre os mais pobres e menos escolarizados— coincide com o que se viu nas eleições passadas.

Estudo conduzido pelos cientistas políticos Emerson Urizzi Cervi (Universidade Federal do Paraná) e Felipe Borba (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apontou que, em 2018, por exemplo, 13,1% dos brasileiros com ensino superior se abstiveram de votar, enquanto entre os eleitores com ensino fundamental esse índice foi de 24,3% — quase o dobro.

Há, no entanto, um fator que não esteve presente nas eleições passadas e que pode mudar as características da abstenção neste ano: a polarização do eleitorado.

"A polarização tende a aumentar o engajamento do eleitor. E um maior engajamento pode resultar na redução da taxa de abstenção em determinados grupos", diz Costa Souza.

Ao final, afirma o pesquisador, "o que vai fazer a diferença é a capacidade de cada candidato terá de mobilizar o seu eleitorado e fazê-lo comparecer às urnas no dia 2".

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