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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro é fornecedor ou consumidor?

                                 O presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista ao podcast para o público evangélico  -                                 (Reprodução/Youtube/Luciano Subirá)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista ao podcast para o público evangélico Imagem: (Reprodução/Youtube/Luciano Subirá)

Colunista do UOL

13/09/2022 12h42

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"É comum nós homens falarmos, 'vai nascer criança, vai ser consumidor ou fornecedor?'."

A frase, do presidente Jair Bolsonaro, foi dita hoje durante entrevista a sete canais no YouTube ligados ao público evangélico.

Trata-se de uma piada que ele diz não fazer mais e cuja graça estaria na associação entre os gêneros e seus papéis no mercado do sexo — produto do qual meninos seriam "consumidores" e mulheres "fornecedoras".

O chiste pode fazer sucesso em churrascos frequentados pelo presidente e seus amigos, mas certamente não faz rir as fiéis evangélicas —público fundamental para Bolsonaro, que precisa tanto manter a preferência nesse segmento religioso quanto aumentar sua popularidade no eleitorado feminino, onde sua rejeição alcança os maiores índices.

Pesquisas mostram que dois temas sobretudo são responsáveis pela resistência das mulheres a Bolsonaro.

O primeiro é a defesa que faz o presidente da liberação do uso de armas — uma pauta que desagrada em especial moradoras das periferias violentas, receosas de verem seus filhos cooptados pelo crime ou vítimas dele.

O segundo motivo é o modo como o presidente conduziu a pandemia.

Na entrevista ao pool evangélico, o presidente omitiu sua costumeira apologia às armas e ensaiou um ato de contrição ao declarar arrependimento por ter dito que não era coveiro quando perguntado sobre o número de mortes causadas pela covid-19.

Mostrou assim docilidade aos conselheiros de campanha e às planilhas de pesquisa, de onde saíram o programa eleitoral que vai ao ar hoje na TV, integralmente dedicado à tentativa de agradar o público feminino.

Mas uma coisa é programa produzido e roteirizado, outra diferente são os cacos inevitáveis que, vindos do fundo do coração, o ex-capitão expele nas entrevistas em que se sente mais à vontade. Nesses momentos, Bolsonaro se encarrega de oferecer a munição e usá-la contra si próprio — vira fornecedor e consumidor, para desânimo dos que, por força da profissão, têm agora de embalá-lo ao gosto da freguesia.