Topo

Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O caso Alckmin e a descrença de pesquisadores no movimento do voto útil

Colunista do UOL

21/09/2022 04h00Atualizada em 21/09/2022 14h50

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Esta é parte da newsletter da Thaís Oyama enviada ontem (19). Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista conta o caso de Geraldo Alckmin e o voto útil ocorrido na campanha de 2018 e por que pesquisadores duvidam que o mesmo fenômeno esteja ocorrendo agora com o candidato Ciro Gomes (PDT). O texto traz ainda a coluna "Em off", que mostra por que um dos principais coordenadores da campanha do PT acha que os empresários não querem o fim das eleições no primeiro turno. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Inscreva-se aqui.

********

Anteontem, pesquisa BTG/FSB apontou a possibilidade de eleitores de Ciro Gomes (PDT) estarem mudando seu voto em prol de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), num movimento conhecido como "voto útil".

O caso mais paradigmático de ocorrência desse tipo de voto — em que um eleitor desiste de seu candidato para votar naquele com mais chances de derrotar o nome que ele considera o pior de todos—deu-se em 2018, com o então tucano Geraldo Alckmin no papel de vítima.

A oito dias do primeiro turno das eleições daquele ano, Alckmin, ex-governador de São Paulo e hoje candidato a vice-presidente na chapa de Lula (PT), aparecia com 10% de intenção de votos na pesquisa Datafolha.

A cinco dias da votação, esse índice caiu para 9%.

A três dias, foi para 8%.

Na véspera da eleição, era de 7%.

No final, encerrado o pleito, Alckmin saiu das urnas com 4,7% dos votos válidos.

O nome disso? Voto útil.

"Eleitor opta por voto útil só quando está com a faca no pescoço"

Muitos eleitores de Alckmin decidiram abandonar o barco do ex-governador na última hora para não "desperdiçar" seu voto ou para apoiar aquele que poderia impedir, a depender do gosto de cada um, a vitória do ex-capitão Jair Bolsonaro ou do petista Fernando Haddad.

Ocorre que, como mostra a sequência de pesquisas Datafolha, essa decisão foi tomada ao longo da semana que antecedeu o primeiro turno, quando também desidrataram (embora menos que Alckmin) Marina Silva e Ciro Gomes.

"Hoje, a duas semanas da eleição, é cedo para falar em voto útil", diz o economista e professor da Universidade George Washington, Maurício Moura, fundador do instituto Ideia. "Voto útil se dá quando o eleitor está com a faca no pescoço, com um medo muito forte, um medo que não está presente agora entre os eleitores do Ciro".

Felipe Nunes, cientista social e diretor da Quaest, concorda com Moura. "O voto útil se decide, em geral, no dia da votação. É racionalidade na boca da urna".

Para Nunes, o que pode estar acontecendo agora é uma mudança de votos de fato. "A rejeição de Ciro vem aumentando. Quanto mais bate em Lula, mais se afasta do eleitor que acha que ele deveria apoiar o PT no segundo turno. Ou seja, pode não ser estratégia o que está movendo o eleitor de Ciro neste momento, mas desgosto com a sua escolha", diz.

Contra vitória de Lula no primeiro turno, história e abstenção

Já o cientista político e sócio-diretor do Real Time Big Data, Bruno Soller, diz enxergar indícios de uma migração de votos para Lula combinada com uma queda na soma dos votos da ex-terceira via, o que poderia sinalizar o início de uma onda de voto útil.

Soller, porém, diz não acreditar na possibilidade de essa onda desembocar na vitória de Lula no primeiro turno.

Primeiro, porque numa disputa apertada, afirma, os índices de abstenção podem jogar contra o petista. "Os candidatos da terceira via têm mais votos nas classes média e média alta, cuja taxa de comparecimento às urnas tende a ser maior do que aquela que ocorre nas regiões com grande concentração de pobreza, redutos de Lula".

Em segundo lugar, diz o cientista social, pesa o fato de que o PT nunca ganhou uma eleição no primeiro turno.

"Em 2006, no auge da sua popularidade como presidente, Lula precisou do segundo turno para ser reeleito", afirma Soller. "Historicamente, e por maior que seja a rejeição de Bolsonaro, ele não tem mais que 50% dos votos".

****

LEIA MAIS NA NEWSLETTER