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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O poder do vice: Lula pretende fazer de Alckmin um "gerente" do governo

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin: na prática, já o número 2  - TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin: na prática, já o número 2 Imagem: TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

16/11/2022 11h48

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Lula planeja montar a "espinha dorsal" do governo e, a partir daí, dar início a uma sequência de viagens ao exterior.

A intenção do presidente eleito é priorizar o restabelecimento das relações do Brasil com o mundo de forma a trazer ao país um fluxo de investimento estrangeiro que beneficie sobretudo a área de infraestrutura.

Enquanto sai pelo mundo à cata de recursos, Lula pretende deixar a cargo de seu vice, Geraldo Alckmin, o "gerenciamento" do país.

"Geraldo será muito mais ativo operacionalmente do que se pensa", afirma um aliado do presidente, em linha com o que afirmaram à coluna sobre o futuro papel do vice um senador do PT próximo a Lula e um colaborador da intimidade de Alckmin.

O vice-presidente eleito, segundo o senador, mesmo sem ministério, deverá ter uma "ação transversal no governo", o que significa que deverá opinar em todas os assuntos, a começar pela economia.

Nessa área em especial, Alckmin e Lula estão em "total alinhamento", de acordo com o aliado que teve longa e recente conversa sobre o tema com o presidente eleito e, em separado, com o vice.

De acordo com esse aliado, Lula e Alckmin têm destacado os mesmos pontos que deverão nortear a condução da economia.

O investimento em infraestrutura, afirmam, não pode depender unicamente do setor privado (já que em demandas urgentes como a da melhora das rodovias, por exemplo, o modelo teria viabilidade restrita à região Sudeste); o estado tem de agir como indutor do crescimento; o investimento público é a melhor forma de gerar emprego; e, embora se deva manter o controle da inflação, o governo não deve abrir mão de perseguir um espaço fiscal no Orçamento que lhe permita montar um "colchão social" e melhorar o poder de compra da população.

Hoje, na prática, Alckmin já desempenha atribuições de "gerente" do governo.

Como coordenador do governo de transição, e responsável pelo anúncio dos nomes que integrarão os seus 31 grupos técnicos, o vice tem nas mãos o rascunho do quebra-cabeça político inicial do governo.

Como articulador de Lula na negociação com o Congresso da PEC da Transição, encabeça a operação que resultará no ponto de partida da nova gestão, o Orçamento de 2023.

Ao conferir tamanhos poderes ao vice, Lula, afirmam aliados, intenciona ressaltar que não fará um "governo do PT". Segundo um aliado, o petista considera que episódios como os ocorridos ontem, quando ministros do STF sofreram agressões nas ruas de Nova York, "não irão cessar tão cedo". Colocar Alckmin na vitrine de um "grande pacto" destinado a governar o país, afirma o aliado, seria, na concepção de Lula, o primeiro passo para "pacificá-lo".