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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"PT raiz" se acha escanteado e já prevê embates com ministros "forasteiros"

 O presidente eleito Lula e o petista histórico Jaques Wagner, que não ganhou ministério: será líder do governo no Senado: -  O Antagonista
O presidente eleito Lula e o petista histórico Jaques Wagner, que não ganhou ministério: será líder do governo no Senado: Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

29/12/2022 13h28

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Finda a montagem dos ministérios, o PT levou nove das 37 pastas do novo governo.

Para integrantes da frente de 14 partidos que apoiou a eleição de Lula, isso é muito — na quantidade e na qualidade, já que ficaram com a sigla os ministérios mais poderosos e vistosos, como Economia, Casa Civil, Educação, Saúde e Desenvolvimento Social.

Mas se desagradou aliados, a lista final de ministros tampouco satisfez o PT — ao menos uma parte importante dele.

O autointitulado "PT raiz" considera que ficou de fora da montagem do governo. A mágoa não apenas já se faz visível como em breve pode respingar nos chamados "ministros forasteiros".

O deputado federal e líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes, por exemplo, já tinha até terno novo comprado quando foi comunicado por Lula, ontem à noite, de que não seria mais ministro.

Seu nome teve de ser rifado para contemplar o União Brasil e o PSD, como esclareceu o dispensado fazendo questão de deixar de lado as meias palavras.

Além de Lopes, engrossam o time dos preteridos José Guimarães, deputado e novo líder do governo na Câmara; Humberto Costa, senador; Edinho Silva, prefeito de Araraquara; Jaques Wagner; senador e novo líder do governo no Senado; e Gleisi Hoffmann, presidente da sigla.

Petistas históricos, eles foram convidados a ceder lugar no gabinete de Lula para nomes como o da socióloga Nísia Trindade (Saúde), Simone Tebet (Planejamento) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), este último o "companheiro" indicado pelo União Brasil, e cujo nome e estado de origem Lula confundiu na cerimônia em que anunciou o restante do seu ministério.

Nísia Trindade, embora indicada por Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais), não é vista por petistas como um deles, além de suscitar a desconfiança, por exemplo, do grupo que integra o núcleo de saúde da Fundação Perseu Abramo e semanalmente se reúne para discutir políticas do partido para o setor. "É impossível não haver uma enorme distância entre o que pensa a futura ministra e o que o partido consolidou nesses anos todos de discussão", afirma um petista.

Para Simone Tebet, que além do status de forasteira já chega com o de presidenciável, o ambiente deve ser um pouco mais hostil. Dos prováveis futuros embates que a emedebista deverá ter com Fernando Haddad, poucos apostam que poderá sair vitoriosa.

Foi do futuro ministro da Economia — filho dileto de Lula e detentor de opiniões francamente divergentes das de Tebet— a decisão de manter o PPI na Casa Civil e não no Planejamento, como esperava a ex-senadora.

Na avaliação de um petista raiz, ao deixar integrantes históricos na chuva e optar por concentrar nomes do partido no núcleo palaciano —Marcio Macedo na Secretaria Geral da Presidência, Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Pimenta na Secom e Rui Costa na Casa Civil, além de Fernando Haddad na Economia, Camilo Santana na Educação e Wellington Dias no Desenvolvimento Social —Lula pode ter aberto um flanco no projeto político do PT e riscado um fósforo dentro do governo.

Na semana passada, o comando central do núcleo de transição distribuiu aos jornalistas e responsáveis pela divulgação do PT nas redes sociais a seguinte mensagem: "Vamos cobrir os NOSSOS ministros" (maiúsculas da colunista).

O recado não poderia ser mais claro.

Os forasteiros que se cubram, o fogo amigo vem aí.