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Emendas recorde mostram que Lula tem pressa e nenhuma gordura para queimar
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"Eu tenho 77 anos, não me peçam pra esperar."
A frase tem sido repetida pelo presidente Lula a integrantes de sua equipe de governo toda vez que cobra resultados e ouve que é preciso aguardar um pouco.
Lula está com pressa e, para chegar aonde quer, já escolheu seu atalho no Congresso. O Orçamento negociado pelo governo, como mostra reportagem da Folha de hoje, brindará os parlamentares com um valor em emendas jamais visto nem no abundoso governo Bolsonaro.
Serão R$ 46,3 bilhões voltados para atender a projetos de deputados e senadores e adoçar o humor de um parlamento de maioria conservadora que, sem esse estímulo, ameaça deixar o governo na chuva "até em matérias de maioria simples", como fez questão de lembrar em voz alta Arthur Lira, presidente da Câmara e arquiteto do acordo entre o governo e o Congresso.
Lula não tem tempo para ficar na chuva, e por isso resolveu cortar caminho apoiando a reeleição de Lira, em fevereiro, e, na semana passada, optando por manter no cargo Juscelino Filho, o ministro das Comunicações suspeito de malfeitos no atacado e no varejo, mas pertencente a um partido que, com 59 parlamentares na Câmara e 10 no Senado, pode resolver ou empacar a sua vida no parlamento.
Mas se, nos bastidores da política, Lula presta homenagens ao União Brasil e coroa "procurador das lideranças" da Câmara o arquiduque do centrão, Arthur Lira, publicamente, o presidente tem ignorado o eleitorado conservador — seu público é cada vez mais o seu cercadinho.
E por que Lula age assim? Porque mais do que conseguir atrair novos apoiadores, o petista precisa manter os que já tem.
Ao atacar os juros, o Banco Central, seu presidente e dizer que não governa "para o mercado", Lula dá mostras de ter entendido o fenômeno que o cientista político Felipe Nunes chama de "calcificação" do eleitorado. Segundo Nunes, o eleitorado brasileiro está hoje dividido em dois blocos de tamanho quase idêntico, separados por visões de mundo diferentes, e que não se mexem nem com eventos da magnitude de um 8 de janeiro.
Dessa forma, entre o que seria uma vã tentativa de avançar sobre um eleitorado petrificado, que o rejeita de qualquer maneira, e a segunda opção, a de preservar o seu próprio bloco de apoiadores, Lula fica com a última.
Para quem foi eleito com uma margem de menos de 2% de vantagem sobre o seu oponente, perder 2% significa tornar-se mais frágil do que os seus adversários — e, portanto, ameaçado em sua permanência no poder. Lula está com pressa: não tem gordura para queimar nem tempo para perder, não lhe peçam para esperar. Os modos que fiquem pelo caminho.
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