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Vicente Toledo

Doadores pagaram US$ 250 mil para ver Trump horas antes de teste positivo

Colunista do UOL

03/10/2020 03h55

Cerca de 20 doadores pagaram US$ 250 mil cada para participar de uma reunião com Donald Trump, na última quinta-feira, em Nova Jersey. Poucas horas mais tarde, o presidente dos Estados Unidos anunciou no Twitter que havia testado positivo para o coronavírus.

Ainda não está claro quando ou como Donald Trump foi infectado, mas é evidente que o presidente já havia contraído o vírus quando esteve com os doadores em um ambiente fechado no seu clube de golfe em Bedminster. Os participantes teriam sido submetidos a testes rápidos antes de entrar na exclusiva reunião. O que eles não esperavam, porém, era que o próprio presidente estivesse contaminado.

Em vídeo, presidente Donald Trump diz que ficará bem após ser encaminhado para hospital em decorrência da covid-19 - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Em vídeo, presidente Donald Trump diz que ficará bem após ser encaminhado para hospital em decorrência da covid-19
Imagem: Reprodução/Twitter

Àquela altura, somente Trump e seu círculo mais próximo sabiam que a assessora Hope Hicks havia testado positivo para o coronavírus. Mesmo assim, decidiram manter a participação do presidente no evento de sua campanha à reeleição. A porta-voz do governo, Kayleigh McEnany, alegou que a viagem foi "considerada segura", dizendo apenas que o presidente permaneceu ao ar livre e praticou distanciamento social durante o evento.

Além da reunião a portas fechadas, que arrecadou US$ 5 milhões, Donald Trump também interagiu com aproximadamente 200 pessoas por várias horas na parte externa do clube de golfe. Uma pessoa que esteve no evento disse que o presidente parecia letárgico, embora outros o descreveram com aparência saudável e engajado enquanto respondia perguntas dos convidados.

Jantar na quarta à noite custou US$ 200 mil por casal

Pouco mais de 24 horas antes da confirmação do diagnóstico de covid-19, Donald Trump esteve em Minnesota, onde cumpriu uma extensa agenda de eventos de campanha. Entre eles, um jantar privado com doadores no subúrbio de Shorewood, ao preço de US$ 200 mil por casal.

Fotos e vídeos do evento obtidos pelo jornal "The St. Paul Pioneer Press" mostram participantes ignorando medidas de precaução contra a covid-19. O presidente não aparece nas imagens, mas algumas delas revelam pessoas sem máscaras e cantando karaokê, combinação que aumenta o risco de transmissão do vírus.

Entre os participantes do jantar foram identificados Sergio Gor, assessor do Senador Rand Paul, republicano de Kentucky, e Kristi Noem, governadora da Dakota do Sul, estado que registra aumento de 52% no número de casos de covid-19 nas últimas duas semanas. Um porta-voz da governadora disse na sexta-feira que ela testou negativo para o coronavírus e "não esteve em contato com ninguém cujo teste tenha dado positivo".

Depois do jantar com doadores, Donald Trump fez um comício para 3 mil pessoas no Aeroporto Internacional de Duluth, onde a preocupação com distanciamento social e uso de máscaras foi largamente ignorada. Seu discurso durou apenas 45 minutos, bem mais curto que o normal.

No voo de volta para a capital Washington, o presidente dormiu. Também viajaram no avião presidencial os três deputados federais republicanos de Minnesota: Pete Stauber, Jim Hagedorn e Tom Emmer. Em foto postada por um deles no Twitter, nenhum usava máscara.

Donald Trump e plateia sem máscara em comício nesta semana em Minnesota - REUTERS/Leah Millis - REUTERS/Leah Millis
Donald Trump e plateia sem máscara em comício nesta semana em Minnesota
Imagem: REUTERS/Leah Millis

Correria para fazer testes: resultados negativos "não significam nada"

A notícia da infecção de Trump pelo coronavírus causou correria entre doadores e aliados políticos que tiveram contato com o presidente nesses eventos. Muitos anunciaram que entrariam em quarentena e fariam testes na sexta-feira. Mas embora alguns tenham divulgado resultados negativos, especialistas alertam que esses testes não são conclusivos.

"Não significam nada", disse Michael Osterholm, epidemiologista da Universidade de Minnesota. "O mais cedo que conseguimos detectar o vírus é no quarto ou quinto dia após a contaminação", explicou.

O departamento de saúde de Minnesota divulgou comunicado na sexta-feira recomendando que qualquer pessoa com sintomas seja testada imediatamente. Quem não apresentar sintomas, deve esperar alguns dias para fazer o teste.

"As pessoas devem fazer o teste de cinco a sete dias depois do evento. Se o resultado for negativo, devem fazer o teste novamente cerca de 12 dias após o evento", disse o órgão de saúde estadual, referindo-se ao comício em Duluth.

Como Donald Trump testou positivo na noite da quinta-feira, ele provavelmente já estava contaminado quando expôs as milhares de pessoas que foram ao comício e os doadores que desembolsaram centenas de milhares de dólares para apoiar sua candidatura à reeleição.